Bebel Gilberto
Vim ao mundo em Nova York,
mas o coração é brasileiro. Brasileiríssimo, devo frisar. E as raízes também.
Nasci numa situação privilegiada: culturalmente, cresci em ebulição; financeiramente,
nunca me faltou nada. Não é o caso das crianças estampadas nestas páginas, e
muitas outras, privadas de algumas das coisas mais básicas. Natural, portanto,
aceitar o convite para participar do Projeto Jeitos de Aprender na Educação
Infantil. São ações como essas que, de fato, fazem a diferença num mundo tão
desigual. Fechados em bolhas, seguros em condomínios, passamos por vezes
alheios. Chamados como esse nos humanizam, jogam na cara o que muitas vezes
empurramos pra debaixo do tapete.
Estou numa típica manhã fria
dessas que fazem em São Paulo. Desço do meu confortável quarto no hotel
Emiliano, no bairro nobre dos Jardins, onde estou hospedada. Numa van, rumo à
Escola Zuleika Pereira Leite, no Campo Limpo. E a mesma São Paulo, cantada de forma
tão poética por alguns dos meus compositores favoritos, vai mudando de cenário.
Entre os trancos e barrancos, os do asfalto e os da vida, chego ao meu destino.
A rua é bucólica. Vazia. Um portão azul completa a paisagem. E o som das
crianças brincando atrás dele vai deixando o coração mais quente. Bem mais
quente, aliás. Crianças quando brincam são todas iguais, penso, relembrando da
minha própria infância. E da saudade. Mas, quando termina a brincadeira, a
realidade é outra. E pode ser dura.
A Escola Zuleika Pereira
Leite faz parte do bonito projeto capitaneado pela Bulgari, que, junto à
fundação Abrinq, Save the Children, ajuda milhares de crianças e professores,
arrecada milhões, constrói escolas, fortalece a educação e, consequentemente, o
futuro. São mais de 7 milhões de pessoas beneficiadas no mundo inteiro. Com
orgulho, aceitei o posto de embaixadora do programa social patrocinado pela
joalheria italiana que, como parte das comemorações dos seus 125 anos, optou
por fazer a sua parte. Quis contribuir com a sociedade, celebrando o seu
passado enquanto olha para o futuro. Well done. Mais do que doar dinheiro para
a causa, o que por si só já seria nobre, prefere usar as suas tantas conexões
para angariar fundos. Como o anel desenvolvido pela marca, feito de prata e
cerâmica, com parte da venda revertida à fundação. A escolha de artistas
nacionais ajuda a dar cara à causa em cada país. Já participaram Sting,
Leighton Meester, Isabella Rossellini, Juliane Moore, Ricky Martin, Benicio Del
Toro, Jessica Biel… todos espontaneamente. Sem lucrar com isso, quero dizer.
Sem lucrar financeiramente, já que se trata de uma típica ação emocionalmente
positiva. Somos voluntários, juntos por um futuro melhor.
Como é gostoso estar com
crianças. Ali, no pátio do colégio, fui cercada por dezenas delas. Numa roda,
cantei músicas da minha infância e aprendi outras da nova geração. Aprendi
também a nova versão do “Atirei o Pau no Gato”, a politicamente correta, meio
chata (rs), que virou “Não atiro o Pau no Gato”… mas tudo bem. Juntos,
colocamos a “mão na massa”, ou melhor, na tinta. E pude ver aqueles meninos e
meninas ganhando a promessa de uma educação mais concreta, a fé de um futuro
mais feliz. E a certeza de que, no fim das contas, quem ganhou fui eu. Uma dose
de vida real com as crianças carentes de Campo Limpo. Assim, na veia.
Por Bebel Gilberto
De Fundação Abrinq
*Matéria publicada na
Revista RG"
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