Ativistas resistem ao bloqueio do Clipper Hope há quatro dias (©Greenpeace/Marizilda Cruppe/EVE)
Sentindo a brisa do entardecer, ouvindo o movimento das ondas, parece até que estou na praia, em vez de pendurada a 10 metros na corrente de âncora de um navio cargueiro, próximo a São Luis (MA). Mas aqui estou. O navio Clipper Hope estava para chegar ao porto dias atrás, para receber uma carga de ferro gusa. Mas por três dias – até agora – o impedimos de levantar âncora e chegar ao seu destino.
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De primeira, o capitão do cargueiro não entendeu porque estávamos protestando em seu navio. O que há de errado com ferro gusa? Ele é usado para produzir aço. A resposta? Ele é feito de um jeito barato e altamente destrutivo, e há formas mais responsáveis de se fazer isso. Para se produzir ferro gusa, é necessário carvão, que requer uma quantidade enorme de madeira. E a maneira mais barata de se conseguir essa madeira é extraí-la ilegalmente de áreas remotas da Amazônia, e até usar trabalho escravo para transformá-la em carvão.
A Amazônia é um dos lugares mais biodiversos do mundo, e assisti-la sendo transformada em cinzas é uma das imagens mais tristes e representativas do que está acontecendo com nosso planeta. Os índices de desmatamento podem voltar a crescer por conta de decisões tomadas recentemente pelo governo brasileiro.
Portanto, espero que o capitão e a simpática tripulação do Clipper Hope digitem ‘Greenpeace’ e ‘ferro gusa’ no Google para encontrar nosso relatório, e aprendam sobre as consequências da produção da carga que levam em seu navio. Espero que montadoras de veículos como Ford e General Motors aprendam de onde vem o aço que elas consomem. Espero que todos nós aprendamos os custos reais de nosso estilo de vida conveniente, e que possamos fazer escolhas melhores. Nós não temos que destruir a Amazônia, e não temos que destruir nosso futuro.

*A australiana Emma Briggs é ativista e membro da tripulação do navio Rainbow Warrior 
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