No ano passado, a chamada
“contabilidade criativa” — manobras realizadas pelo governo para o cumprimento
do superávit fiscal — não foi suficiente para atingir a meta estipulada no ano
anterior: dos R$ 139,8 bilhões previstos em 2012, foram atingidos apenas R$ 105
bilhões. Estudo realizado pelos
economistas Gabriel Leal de Barros, pesquisador da Economia Aplicada do IBRE e
José Roberto Afonso, especialista em finanças públicas, demonstra que por trás
da sofisticada e complexa engenharia fiscal feita pelo governo está, apenas, o
financiamento de gastos via endividamento público.
Os autores alertam que, no
curto prazo, o efeito dessas transações
intituladas como ‘atípicas’ (já que não constituem operações próprias e
regulares da gestão fiscal) irão impactar muito mais na perda de transparência
de credibilidade das estatísticas fiscais, algo que, de acordo com Barros, é
extremamente perigoso para a saúde da economia de um país. “Isso é algo que
nossa vizinha, a Argentina, conhece bem e que deveria nos servir como reflexão
do que jamais fazer com as contas públicas (hoje, os indicadores econômicos
argentinos são questionados pelo mercado quanto a sua veracidade)”, alerta Barros.
O pesquisador do IBRE ainda acrescenta que a
falta de prudência no uso dessas estatísticas provoca dúvidas sobre a
credibilidade dos dados, o que afeta a confiança dos agentes econômicos na
condução da política econômica – principal alavanca de funcionamento da
economia moderna. O que falta, na opinião dos especialistas, é uma reforma
fiscal urgente. “É preciso realizar mudanças no processo orçamentário,
patrimonial e financeiro brasileiro, regido pela Lei 4.320/64”, ressalta.
Verdadeiro impasse “Simplificadamente, o governo tem-se
utilizado das diferentes métricas de apuração dos resultados fiscais para
produzir receita primária e aumentar o superávit por meio de maior
endividamento público e operações de caráter financeiro”, explica Barros. São
operações — entre elas, transferência de títulos e vendas de ações — que
envolvem, principalmente, a Caixa Econômica Federal, o Banco Nacional do
Desenvolvimento (BNDES) e o Tesouro Nacional — que resultaram em um incremento
de R$ 20 bilhões na receita da União, segundo a pesquisa.
Fonte: FGV
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