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sábado, março 30, 2024

Acordo de Escazú: Um Imperativo à Proteção Ambiental e aos Ativistas Ambientais no Brasil.

 Dinalva Heloiza

Acordo de Escazú, é um Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe, adotado em Escazú (Costa Rica) em 4 de março de 2018 e negociado pelos Estados com a participação significativa da sociedade civil e do público em geral, assim confirmando o valor da dimensão regional do multilateralismo para o desenvolvimento sustentável.


Este é o primeiro tratado ambiental da América Latina e do Caribe, com o objetivo de promover os direitos de acesso à informação, à participação e à justiça em questões ambientais.  O Acordo de Escazú também é o primeiro tratado internacional a prever mecanismos específicos de proteção a defensores ambientais. E esse ponto é especialmente importante porque a nossa região é a mais violenta do mundo para esse grupo.

No entanto, apesar de sua relevância e ter sido assinado pelo Brasil já em 2018, o Acordo de Escazú ainda não foi ratificado por nosso país, apesar de tantos crimes ambientais e uma contínua e recorrente violência contra os defensores ambientais nos últimos anos. 

Em cenário político latino-americano e caribenho, o Acordo de Escazú emerge como um instrumento crucial para a proteção ambiental e a salvaguarda dos ativistas que dedicam suas vidas à defesa dos recursos naturais. Ratificado por mais de 15 países da região desde sua assinatura em 2018, este tratado representa um marco na busca por uma governança ambiental mais transparente e participativa.

No Brasil, a urgência na ratificação do Acordo de Escazú é evidente, especialmente em meio aos desafios ambientais crescentes enfrentados pelo país. Nos 100 primeiros dias do governo do presidente Lula em uma demonstração de compromisso com a causa ambiental, juntamente com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, encaminhou o Acordo para que seja ratificado pelo Congresso Nacional.

O respaldo ministerial foi amplo, contando com o aval dos Ministérios dos Direitos Humanos e Cidadania, dos Povos Indígenas e das Relações Exteriores. Essa unidade de esforços reflete a compreensão da importância do Acordo de Escazú para promover uma abordagem integrada entre direitos humanos, proteção ambiental e participação cidadã na tomada de decisões.

Hoje após quase um ano e meio nas mãos do Congresso Nacional, nenhuma ação para ratifica-lo foi contemplada pelos parlamentares que ocupam o Congresso Nacional. Mais recente, em 26 de março de 2024, em um ato de alerta e convocação, um total de 157 entidades da sociedade civil brasileira, assinaram uma carta pela ratificação do Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe, o Acordo de Escazú.

A carta é endereçada ao Ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha.

O contexto legislativo do Acordo de Escazú permite preencher lacunas significativas na proteção dos defensores ambientais, que frequentemente enfrentam ameaças e violações de seus direitos básicos. Ao garantir o acesso à informação, a participação pública em processos decisórios e o acesso à justiça em questões ambientais, o tratado visa fortalecer a voz da sociedade civil e promover a responsabilização das partes envolvidas na degradação ambiental.

No entanto, apesar dos esforços iniciais para sua ratificação, o Acordo de Escazú ainda aguarda a ratificação pelo Congresso brasileiro. Essa demora representa não apenas uma lacuna na proteção dos direitos ambientais e dos defensores, mas também um obstáculo para a construção de uma política ambiental mais sólida e inclusiva.

Neste contexto, a pressão da sociedade civil e o engajamento ativo dos legisladores são fundamentais para assegurar que o Acordo de Escazú seja ratificado e implementado efetivamente. Somente através de uma cooperação regional e nacional sólida será possível enfrentar os desafios ambientais que afetam não apenas o Brasil, mas toda a região latino-americana e caribenha.

Desafios e Perspectivas para a Ratificação do Acordo de Escazú no Brasil

Embora o Acordo de Escazú tenha recebido apoio significativo de diversos setores da sociedade brasileira e dos mais altos escalões do governo, sua ratificação enfrenta alguns obstáculos políticos e burocráticos. Entre os principais desafios está a necessidade de garantir que o tratado não apenas seja aprovado pelo Congresso Nacional, mas também seja acompanhado por medidas efetivas de implementação e cumprimento.

Um dos pontos de preocupação diz respeito à resistência de alguns setores políticos e econômicos que sugerem que o Acordo de Escazú possa limitar o desenvolvimento econômico e impor restrições excessivas às atividades industriais e empresariais, o que não tem procedência legítima, se houvesse um interesse verdadeiramente sustentável por estes setores à  prevalência das políticas ambientais no país e do desenvolvimento sustentável em todo o seu contexto. Essas preocupações destacam a importância de um diálogo aberto e construtivo entre os diferentes atores envolvidos, visando encontrar um equilíbrio entre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Além disso, a complexidade do sistema legislativo brasileiro e a agenda política podem resultar em atrasos na análise e votação do Acordo de Escazú. Neste aspecto é crucial que os parlamentares priorizem essa questão e reconheçam a importância estratégica do tratado para o país e para a região como um todo.

Por fim, a sociedade civil desempenha um papel fundamental na promoção da ratificação do Acordo de Escazú, pressionando os legisladores, mobilizando a opinião pública e monitorando o processo político. A participação ativa dos cidadãos é essencial para garantir que o tratado seja aprovado e implementado de maneira eficaz, contribuindo para a proteção do meio ambiente e o fortalecimento da democracia participativa.

Em suma, a ratificação do Acordo de Escazú representa um passo crucial para o Brasil no sentido de fortalecer sua governança ambiental, proteger os defensores ambientais e promover o desenvolvimento sustentável. Superar os desafios e garantir a implementação efetiva do tratado exigirá um compromisso coletivo e uma ação coordenada por parte de todos os atores envolvidos, e sociedade num todo.


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