Dois especialistas das Nações Unidas sobre meio ambiente e resíduos
tóxicos exortaram o Governo brasileiro e relevantes empresas a tomarem medidas
imediatas para proteger o meio ambiente e a saúde das comunidades em risco de
exposição a substâncias químicas tóxicas em decorrência do catastrófico colapso
de uma barragem de rejeitos no dia 5 de novembro de 2015.
“Este não é o momento para uma
postura defensiva”, disse o Relator Especial das Nações Unidas sobre os
direitos humanos ao meio ambiente, John Knox, e o Relator Especial sobre
direitos humanos e substâncias e resíduos perigosos, Baskut Tuncak. “Não é aceitável
que tenha demorado três semanas para que informações sobre os riscos tóxicos da
catástrofe mineira tenham chegado à tona.”
“As medidas tomadas pelo governo
brasileiro, a Vale e a BHP Billiton para evitar danos foram claramente
insuficientes. O Governo e as empresas devem fazer tudo ao seu alcance para
evitar mais danos, incluindo exposição a metais pesados e outras substâncias
químicas tóxicas,” enfatizaram.
Nova evidência mostra que o colapso dessa barragem de rejeitos
pertencentes a uma joint venture entre a Vale e a BHP Billiton (Samarco
Mineração S.A.), que lançou 50 milhões de toneladas de resíduos de minério de
ferro, continha altos níveis de metais pesados tóxicos e outros produtos
químicos tóxicos no rio Doce. Hospitais em Mariana e Belo Horizonte, capital do
estado de Minas Gerais, receberam vários pacientes.
“A escala do dano ambiental é o
equivalente a 20.000 piscinas olímpicas de resíduos de lama tóxica contaminando
o solo, rios e o sistema de água em uma área de mais de 850 quilômetros,” advertiu
Mr. Knox.
O especialista lembrou que o Rio
Doce, uma das grandes bacias hidrográficas do Brasil, “agora é considerado
morto por cientistas, e a lama tóxica está seguindo lentamente seu caminho rio
abaixo em direção ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos, onde ela ameaça a
floresta protegida e o habitat. Infelizmente,
a lama já entrou no mar na praia da Regência, um santuário para tartarugas
ameaçadas de extinção e uma rica fonte de nutrientes que abastece toda a comunidade
pesqueira local.
“As autoridades brasileiras devem
avaliar se as leis do Brasil para a mineração são consistentes com os padrões
internacionais de direitos humanos, incluindo o direito à informação”, disse
Tuncak, que recentemente apresentou um relatório especial* sobre o direito à informação
no contexto de substâncias perigosas ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
“De acordo com as normas
internacionais de direitos humanos, o Estado tem a obrigação de gerar, avaliar,
atualizar e disseminar informação sobre o impacto ao meio ambiente e
substâncias e resíduos perigosos, e as empresas têm a responsabilidade de
respeitar os direitos humanos, incluindo conduzir a devida diligência em proteção
aos direitos humanos”, o especialista destacou.
Os relatores especiais afirmaram
que “este desastre serve como mais um exemplo trágico do fracasso das empresas
em conduzir adequadamente a devida diligência em direitos humanos para prevenir
violações de direitos humanos.”
“Nunca haverá um remédio efetivo
para vítimas cujos entes queridos e meios de subsistência possam agora se
encontrar sob os restos de uma maré de resíduos tóxicos, nem para o meio
ambiente que sofreu um dano irreparável”, eles disseram. “A prevenção do dano
deve estar no centro da abordagem de empresas cujas atividades envolvem
substâncias e resíduos perigosos.”
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