Dinalva Heloiza
Em tempos de eleições e renovação política, nós cidadãs e cidadãos
brasileiros enfrentamos o desafio de escolher nossos representantes de maneira
consciente. A democracia oferece a oportunidade de eleger indivíduos que devem,
em teoria, agir em prol do bem comum, comprometidos com a melhoria das
condições sociais, econômicas e culturais da população. No entanto, essa mesma democracia
pode ser explorada por aqueles que utilizam a política como trampolim para
benefícios pessoais, colocando em risco os valores éticos e democráticos que
sustentam o sistema.
Este contraponto é crucial para que possamos distinguir entre líderes que têm genuíno compromisso com seus eleitores e aqueles que veem a política como um palanque para seus próprios interesses. Identificar as características de um político ético e responsável, ao mesmo tempo que reconhecemos os sinais de um político que age por motivações egoístas, é o primeiro passo para uma sociedade mais consciente e para a construção de municípios que realmente representem os anseios populares.
O Político
Comprometido com o Bem Comum
Uma liderança política que atua de maneira ética e democrática
carrega consigo uma série de valores que norteiam suas decisões, sempre focada
no bem coletivo. Esses indivíduos demonstram:
1. Transparência e
honestidade: Governar com clareza é um dos pilares de uma política justa.
Políticos comprometidos prestam contas de suas ações, explicam suas decisões e
não escondem informações dos eleitores. Esse compromisso com a verdade é a base
da confiança entre o público e os governantes.
2. Responsabilidade:
Essas lideranças entendem que suas decisões têm impacto direto na vida das
pessoas e assumem a responsabilidade por suas ações. Um político responsável
busca soluções concretas e trabalha para implementá-las, com um plano claro de
ação.
3. Justiça e equidade:
Políticos éticos lutam por igualdade de oportunidades e tratam os cidadãos de
forma justa, sem discriminação. Suas políticas são voltadas para reduzir
desigualdades e promover o bem-estar de todos, especialmente os mais
vulneráveis.
4. Empatia e
sensibilidade social: A capacidade de se colocar no lugar do outro é
essencial para a política democrática. Um político com empatia ouve as demandas
da população, especialmente das minorias, e age com o objetivo de melhorar as
condições de vida da sociedade como um todo.
5. Compromisso com o
meio ambiente e o futuro: A sustentabilidade é outro valor fundamental de
uma liderança política que atua com ética. Eles sabem que suas decisões
impactam o planeta e as gerações futuras, e por isso, adotam políticas públicas
que promovem o desenvolvimento sustentável.
6. Respeito às instituições
democráticas: Uma liderança comprometida com a democracia respeita as leis
e as instituições que a garantem, como o Judiciário, o Legislativo e a imprensa
livre. Ele entende que o sistema de freios e contrapesos é essencial para o
funcionamento de uma democracia saudável.
Esses valores são a base para distinguir políticos
verdadeiramente comprometidos com o interesse público. O foco deles é o
bem-estar da comunidade e não o lucro pessoal ou a manutenção de poder.
O Político que Usa a
Democracia para Benefícios Pessoais.
Por outro lado, a política muitas vezes atrai figuras que
utilizam a democracia como uma fachada para seus próprios interesses. Essas
pessoas, embora eleitas para representar a sociedade, agem visando
principalmente o enriquecimento ou a manutenção de seu poder. Eis alguns sinais
que os revelam:
1. Corrupção e desvio
de recursos públicos: O envolvimento em escândalos de corrupção é um dos
primeiros sinais de que o político não está comprometido com o bem comum. O uso
indevido de verbas públicas, o desvio de recursos e o favorecimento de empresas
ou indivíduos em troca de vantagens pessoais são práticas comuns desses
indivíduos.
2. Nepotismo e
favorecimento: Políticos que nomeiam parentes, amigos e aliados para cargos
públicos sem base no mérito estão mais preocupados em fortalecer sua rede de
poder do que em garantir uma administração eficiente e justa.
3. Promessas vazias e
populismo: Utilizam discursos inflamados e promessas irrealistas para
manipular os sentimentos dos eleitores, sem a intenção de cumprir o que foi
prometido. O populismo serve apenas como uma estratégia de conquista de votos,
sem um compromisso genuíno com o que foi prometido.
4. Enriquecimento
pessoal rápido e suspeito: Políticos que acumulam fortunas de forma inexplicável
durante seu mandato devem ser vistos com suspeita. O enriquecimento pessoal sem
explicações claras indica que o político está utilizando o cargo para obter
benefícios próprios.
5. Uso exagerado de
privilégios: Aproveitam ao máximo os benefícios do cargo, como o uso de
verbas públicas para despesas pessoais ou viagens não justificadas. Isso revela
uma postura de desrespeito ao dinheiro público e ao papel que deveriam
desempenhar como servidores da sociedade.
6. Clientelismo e
troca de favores: Um político que depende da troca de favores para
manter-se no poder cria uma rede de dependência, utilizando cargos e benefícios
públicos para garantir apoio político, em vez de focar no interesse coletivo.
7. Ataques às
instituições democráticas: Quando um político tenta deslegitimar as
eleições, atacar a imprensa ou enfraquecer outras instituições democráticas,
ele demonstra claramente seu interesse em concentrar poder, mesmo que isso
comprometa o sistema democrático como um todo.
A Importância da Vigilância Cidadã
Diante dessas características, torna-se cada vez mais
essencial que cidadãs e cidadãos brasileiros mantenha-se vigilantes e críticos
em relação aos seus representantes. A democracia permite que sejamos agentes
ativos no processo de escolha, e, por isso, é crucial diferenciar entre aqueles
que realmente buscam servir a sociedade e os que veem a política como um meio
de autopromoção e enriquecimento.
Como Escolher Melhor?
Para tomar uma
decisão informada, o eleitor deve:
1. Pesquisar o
histórico do candidato – Verifique seu envolvimento em escândalos, sua
postura em relação à transparência e sua experiência em cargos anteriores.
2. Cobrar promessas
realistas – Desconfie de propostas mirabolantes que não possuem base
concreta para serem implementadas. Pergunte sempre “como” o candidato pretende
realizar suas promessas.
3. Observar seu
comportamento durante o mandato – Aqueles que fazem promessas vazias,
favorecem aliados e acumulam poder não têm compromisso com o bem comum.
4. Valorizar o
compromisso com as instituições democráticas – A preservação da democracia
depende do respeito às suas instituições. Eleitores devem apoiar candidatos que
respeitem o sistema de freios e contrapesos e a liberdade de imprensa.
Um exemplo é a
Operação Lava Jato e Suas Consequências que até hoje impactam as Eleições
Brasileiras
Um dos episódios mais marcantes e divisivos da política
recente no Brasil foi a Operação Lava Jato. Conduzida com o objetivo de
combater a corrupção, a operação revelou esquemas de desvio de recursos e
lavagem de dinheiro envolvendo empresas estatais, empreiteiras e políticos. No
entanto, o desenrolar da operação também trouxe à tona questões preocupantes
sobre a imparcialidade no exercício do Judiciário brasileiro naquela época,
principalmente no caso do nosso atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na época não ocupava cargo público.
Liderada pelo então juiz Sérgio Moro, a Lava Jato culminou
na prisão de Lula em 2018, em um processo que mais tarde foi questionado por
sua condução parcial e precipitada. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF)
anulou as condenações de Lula, reconhecendo que o julgamento havia sido
conduzido por um juiz com motivações políticas, comprometendo a integridade do
processo. Essa manobra jurídica não só impediu Lula de concorrer à presidência
nas eleições de 2018, mas também abriu caminho para a eleição de Jair
Bolsonaro.
A ascensão de Bolsonaro, um político de longa carreira, mas
sem expressão significativa até então, foi impulsionada por um discurso
populista, moralista e de combate à corrupção, mesmo que, ironicamente, ele
próprio fosse cercado por suspeitas de corrupção e práticas antiéticas. Com
apoio de falsos moralistas, militares corruptos e fundamentalistas religiosos,
Bolsonaro se aproveitou da polarização gerada pela Lava Jato para se apresentar
como o "salvador" da pátria. Sua retórica inflamada e seu desprezo
pelas instituições democráticas provocaram uma profunda divisão na sociedade
brasileira, que em alguns aspectos persiste até os dias de hoje, e ainda serve
de retórica para muitos que visivelmente desejam emplacar seus interesses
pessoais tanto nos executivos estaduais, municipais e também nas bancadas
políticas em todo o Brasil.
O impacto dessa combinação de manipulação judicial e
discurso populista até hoje se reflete nas eleições, onde a polarização e a
argumentação de desconfiança nas instituições são alicerces para muitos
emplacarem essa fatia sem coerência da sociedade brasileira. A desinformação, o
discurso de ódio e o uso de plataformas sociais, discursos religiosos e violência
militar são instrumentos amplamente utilizados para angariar apoio o que mantêm
o cenário político tenso e fragilizado.
O Que Podemos
Aprender?
Este episódio ressalta a importância de uma justiça verdadeiramente imparcial e de um eleitorado atento às reais intenções dos candidatos. A sociedade brasileira deve estar ciente dos riscos de eleger líderes que, em vez de fortalecerem a democracia, buscam dividir a população e minar as instituições. O compromisso com o bem comum e com os valores éticos deve ser o critério principal na escolha de nossos representantes. Só assim poderemos superar a divisão e caminhar rumo a um futuro mais justo e democrático.
A construção de uma sociedade mais justa, igualitária e
democrática depende diretamente da escolha de líderes comprometidos com esses
valores. Cabe a nós, cidadãos e cidadãs desenvolver uma postura crítica em
relação aos candidatos, diferenciando aqueles que buscam servir à população dos
que veem a política como um caminho para atender aos seus próprios interesses.
Afinal, a verdadeira força de uma democracia está em uma sociedade informada e
vigilante, que não se deixar enganar por promessas vazias e discursos
populistas.
Assim, é possível fortalecer a democracia brasileira, garantindo que nossos representantes, em todos os níveis, ajam com ética, responsabilidade e, sobretudo, em benefício de toda a sociedade brasileira.
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