Dinalva Heloiza
O que estamos observando, em muitas partes do mundo, são sinais alarmantes de uma crescente perda de valores os quais sustentam a convivência humana digna e justa. O aumento de violência, a proliferação de fake news, a erosão de direitos fundamentais, o racismo, e a ausência de ética em várias esferas da vida pública e privada são fenômenos complexos, mas não isolados. Eles estão interligados e, juntos, contribuem para uma crise existencial, civilizatória e social.A pergunta é: - Estamos perdendo nosso cerne humano? Essa pergunta é fundamental e merece uma reflexão profunda.
Nos últimos anos, as sociedades
globais têm enfrentado uma crescente onda de desinformação, violência,
discriminação e perda de direitos fundamentais. Este contexto tumultuado
levanta uma questão premente: estamos, enquanto sociedade, perdendo nosso cerne
humano? Estamos permitindo que o obscurantismo, em suas diversas formas, domine
nossa compreensão do que é ético, justo e humano? Este artigo busca explorar
essas questões, levando em conta dados e argumentos concisos para iluminar como
estamos nos afastando do verdadeiro sentido de humanidade.
A Ascensão do Obscurantismo - O Impacto da Desinformação
O advento das redes sociais trouxe com ele uma revolução na disseminação de informações, mas também abriu espaço para um crescimento exponencial das fake news. Segundo um estudo da Universidade de Stanford, 62% das pessoas no mundo acreditam que a desinformação online teve impacto negativo nas eleições dos seus países. Esse fenômeno não só mina a confiança nas instituições democráticas, como também alimenta ideologias perigosas, alimentando o obscurantismo. O conceito de "obscurantismo" remonta a períodos históricos em que as elites políticas e religiosas evitavam a difusão do conhecimento, mantendo a população em uma "ignorância controlada". Hoje, embora vivamos na era da informação, somos constantemente bombardeados por narrativas falaciosas e tendenciosas, que favorecem agendas específicas, prejudicando o entendimento público dos fatos e, assim, a capacidade crítica da sociedade.
Violência e Desconstrução de
Direitos - Erosão da Humanidade
Outro aspecto crucial a ser analisado é a violência em suas diversas formas – física, simbólica, psicológica e institucional. No Brasil, por exemplo, os índices de violência racial, refletidos no relatório anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam que negros representam 75,4% das vítimas de homicídios, enquanto a discriminação estrutural ainda é um dos maiores obstáculos para o acesso à educação, saúde e trabalho de qualidade. A violência racial, como qualquer outra forma de discriminação, reduz a humanidade das vítimas e dos perpetradores. O racismo não é apenas um crime contra o indivíduo, mas uma agressão direta contra a humanidade coletiva. O racismo sistemático destrói a possibilidade de uma convivência pacífica e igualitária, comprometendo nossa ética e solidariedade.
Além disso, a desconstrução de
direitos fundamentais, como o direito à saúde, educação e moradia,
especialmente em tempos de austeridade e cortes orçamentários, coloca em risco
a dignidade humana. Um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que
a crise econômica global, exacerbada pela pandemia de COVID-19, aumentou as
desigualdades sociais e prejudicou o acesso aos serviços públicos essenciais, afetando
diretamente as populações mais vulneráveis. Em um mundo onde os direitos
humanos são constantemente desafiados, há uma tendência perigosa de desumanizar
aqueles que são mais afetados.
Falta de Ética e
Insustentabilidade - O Caminho para a Desumanização
A ética, princípio central da
convivência humana, também está em risco. De acordo com um levantamento da
Transparency International, cerca de 68% da população mundial acredita que a
corrupção é um problema significativo em seus países. A falta de ética nas instituições
políticas, empresariais e governamentais corrompe as relações sociais, levando
ao enfraquecimento da confiança nas autoridades e à perda de valores
fundamentais como a justiça, a honestidade e o respeito ao próximo.
Paralelamente, vivemos uma crise
ambiental sem precedentes, marcada pela degradação dos ecossistemas e a ameaça
à biodiversidade global. O Relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC) de 2021 alerta para o fato de que, se não houver uma
mudança drástica nas políticas globais, o planeta poderá superar o limite de
1,5°C de aumento da temperatura até 2040, resultando em consequências
catastróficas. A insustentabilidade em nossas práticas de consumo e
desenvolvimento não só ameaça o futuro das gerações vindouras, mas também
reflete um afastamento da ética que deveria guiar a nossa relação com o mundo
natural e com os outros seres humanos.
Rumo à Reconstrução da
Humanidade
É possível reverter esse quadro
de desumanização? A resposta depende de ações conscientes e coletivas.
Precisamos, urgentemente, reverter o avanço da desinformação por meio da
educação digital e da promoção do pensamento crítico. É essencial apoiar
políticas públicas que combatam a desigualdade, a violência e a discriminação,
garantindo que todos tenham acesso a direitos fundamentais. A ética precisa ser
retomada como um princípio fundamental, tanto na esfera pública quanto privada,
e a sustentabilidade deve ser vista como um compromisso inegociável para
preservar a vida no planeta.
Em última análise, a perda de
nosso cerne humano é, sem dúvida e na maioria das vezes, um reflexo de escolhas
coletivas que não priorizam o bem comum. Mas, ao escolhermos caminhos que
reafirmam a dignidade humana, o respeito mútuo e a justiça social, podemos
reconquistar nossa humanidade. O obscurantismo não deve ser o destino da nossa
sociedade. A escolha é nossa: buscar a luz do conhecimento e da ética ou
continuar nos afundando nas sombras da desinformação e da violência, eis a
questão!
A Necessidade de Reafirmar nosso
Sentido em Humanidade
O desafio de preservar e expandir nossa humanidade em tempos de crise global nunca foi tão urgente. Combatendo a desinformação, a violência, a discriminação, a corrupção e a insustentabilidade, podemos não só evitar o colapso social, mas também fortalecer os laços de solidariedade e empatia que são a base de uma convivência civilizada, mais humana e justa. O momento de agir é agora, e a responsabilidade é uma competência que cabe a todos!
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