Embaixadora da causa, e vítima dessa horrenda prática, a modelo somaliana
Waris Dirie afirma, Esse é um crime que ainda
hoje clama por justiça!
Dinalva Heloiza
Dinalva Heloiza
Waris Dirie, ex-modelo somaliana, famosa internacionalmente, foi vítima, ainda criança da circuncisão feminina aos
cinco anos de idade. Mesmo ainda muito criança, aquele momento de tanta dor e humilhação, tornou se inesquecível para Waris, que tornou-se Embaixadora da ONU, em defesa do fim desta prática, foi indicada ainda pelo então Secretário Geral da ONU, Kofi Annan. Em
entrevista ao portal “Por dentro da África”, ela disse: “A Mutilação Genital Feminina
(MGF) não pode ser enquadrada em nenhum aspecto cultural, tradicional,
religioso. Essa prática é um crime que clama por justiça”.
Segundo a Organização das Nações
Unidas (ONU), a prática afeta ainda hoje cerca de 140 milhões de mulheres e meninas em
todo o mundo. Além do sofrimento a que as vítimas estão sujeitas, a circuncisão
aumenta os riscos da mulher contrair infecções e HIV. O processo consiste no corte de parte ou de
toda a genitália externa da mulher e tem o objetivo de eliminar o prazer
durante o sexo, causando danos físicos e psicológicos. Outra versão, chamada
infibulação, é a costura dos lábios vaginais ou do clitóris. Tudo feito sem
anestesia e com instrumentos inapropriados. “ Nós recebemos muitos relatos de
que as meninas fogem de suas casas ou escolas para escapar deste crime brutal.
Podemos ver uma mudança, especialmente entre as mulheres jovens, mas ainda
muito tímida com relação à atitude da geração mais velha. Eles ainda completamente ignorantes, insistem em continuar com esta loucura”, descata Waris,
que tem 49 anos e é mãe de dois filhos.
Em países como Somália, Guiné,
Djibuti e Egito, mais de 90% das mulheres e meninas entre 15 e 49 anos são
mutiladas. Por outro lado, a prática tem sido reduzida em Benin, Libéria, Nigéria,
Quênia, República Centro-Africana e na Tanzânia.
A história que virou bestseller
Por um desejo contundente em não largar os estudos, ainda aos 13 anos de idade, Waris fugiu da cidade de Galkayo para a capital
Mogadíscio. Com a ajuda da avó, que vivia na capital, foi para Londres onde começou a trabalhar na embaixada da Somália, onde ficou escondida até os 18 anos. Lá,
passou a enxergar a mutilação como um crime.
Aos 18 anos, um fotógrafo descobriu sua beleza e, em pouco tempo, Waris
ganhou projeção internacional. Em vez de lamentar o que havia sofrido, decidiu
expor sua experiência com a esperança de que a realidade fosse transformada.
Foi então produzido e lançado o filme “Flor
do Deserto”,(* Veja link disponível no verso) - dirigido por Sherry Hormann e muito divulgado
em diversos países africanos, exceto na Somália, país majoritariamente
muçulmano e um dos lugares mais difíceis de abordar o tema. Para Waris, “A
melhor forma de combater essa horrenda prática é com educação. Além disso, é imperativo o estabelecimento de leis
rigorosas, caso contrário isso não vai parar. Infelizmente, os governos não
estão fazendo o suficiente para proteger essas meninas, e o futuro destas mulheres”.
Waris recebeu muitos prêmios
internacionais por seu trabalho como o “Prêmio Mundial da Mulher”, outorgado pelo então presidente russo Mikhail Gorbachev, em 2004, e a Medalha de Ouro pela Defesa dos
Direitos Humanos, oferecida pela presidência da Itália, em 2010. A sua história
é inspiração e exemplo de um ato que não pode ter mais espaço no mundo.
Avanços
Em 2013, a Assembleia Geral da
ONU aprovou por unanimidade uma resolução que proíbe a prática da Mutilação
Genital Feminina. Este ato significativo foi assinado pelos 194 Estados
membros. A resolução estimula a condenação das práticas nocivas às mulheres e
às meninas e a aplicação da legislação, além de recursos para proteção das
vítimas. De acordo com o documento “A Mutilação Genital Feminina/Excisão: Uma
visão estatística e exploração da dinâmica de mudança”, lançado pela ONU em
janeiro de 2014, aponta que existe um conflito entre a opinião das pessoas e a
tradição, acentuada pela falta de informação. “O dia 6 de fevereiro foi assinalado Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.
“
“Quando eu comecei a fazer
campanha, ninguém sabia sobre a prática. Hoje, muitas pessoas sabem sobre essa
tortura cruel”, comenta Waris. Segundo dados da ONU, desde 2008, cerca de 10
mil comunidades em 15 países pararam com a mutilação feminina. Além disso, aproximadamente
1.775 comunidades em toda a África pretendem acabar com a mutilação feminina.
“Estou muito feliz por ver a cada dia mais meninas e meninos se opondo a esse
crime, por ver mais jovens engajados nessa causa. Eles estão conscientes da
necessidade de fazer com que as leis não fiquem restritas a um pedaço de
papel”, finaliza.
· Assista o Filme “Flor do Deserto” – que conta a
história da modelo Waris Dirie : Disponível Aqui.
Com informações do Portal "Por dentro da África"
Com informações do Portal "Por dentro da África"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente essa Postagem