Dinalva Heloiza
Uma coalizão de ONGs
internacionais e brasileiras denunciou também na terça-feira, 3, na Organização
das Nações Unidas (ONU), ainda em Genebra, o aumento do número de chacinas
envolvendo crianças.
A reunião entre os peritos e os ativistas foi realizada em
total sigilo, sem a presença nem de imprensa nem de governo.
A última vez que a ONU examinou a
condição da infância no Brasil foi em 2003. Naquele momento, o governo estava
atrasado na entrega de seu informe e prometeu que cinco anos depois
apresentaria sua versão.
Quase nada aconteceu depois
disso, e a entidade chegou a ameaçar examinar o Brasil mesmo sem um informe
apresentado pelo governo. Diante da pressão, o País apresentou sua posição e um
exame vai ocorrer em setembro, mais de sete anos depois do previsto.
Os peritos da ONU, porém,
convocaram representantes da sociedade civil para prestar informações da
situação no Brasil. Ontem, o que ouviram foi um relato de uma profunda crise,
em um informe elaborado por entidades como a Save the Children, Fundação
Abrinq, Action Aid e Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente. A constatação é de que, na última década, a situação se deteriorou
de forma profunda no que se refere à segurança juvenil.
Números
Segundo dados passados às Nações
Unidas, entre 1997 e 2011, o número de homicídios passou de 6,6 mil para 8,8
mil, aumento de 33%. A taxa de mortes para cada 100 mil jovens passou de 19,6,
em 1980, para 57,6 em 2012 (194%).
Um dos casos retratados nas
reuniões foi o de Belém. Na madrugada de 5 de novembro de 2014, 11 pessoas
foram mortas supostamente por milícias que entraram em bairros da periferia da
cidade atacando principalmente jovens. A chacina aconteceu depois da morte de
um policial militar no bairro do Guamá.
Para apresentar a voz dos jovens
brasileiros, as ONGs levaram até Genebra Douglas dos Santos, de 17 anos, de
Terra Firme, um dos bairros atingidos pelos ataques em Belém. "Venho de um
bairro que enfrenta discriminações e sei como a juventude é reprimida."
Segundo a denúncia das ONGs, o
homicídio "tem cor" no Brasil. Houve entre 2002 e 2012 uma redução
nos assassinatos de jovens brancos, com queda de 32%. No caso dos negros, a
tendência é inversa, com alta de 32%. Morreram proporcionalmente 168% mais de negros
do que brancos em 2012.
Com Informações das Agências da ONU no Brasil.
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