Década “Agua para a Vida” 2005 – 2015, da ONU.
Dinalva Heloiza
Gênero e Água
Sexo refere-se aos diferentes papéis, direitos e responsabilidades de homens e mulheres e as relações que coexistem entre eles. Sexo não se refere simplesmente a mulheres ou homens, mas à forma como as suas qualidades, atitudes, comportamentos e identidades são determinados através do processo de socialização.
Sexo é geralmente associado com o poder e/ou acesso desigual à opções e recursos. As diferentes posições de mulheres e homens são influenciadas pelos seus históricos, por tradições religiosas, ou as determinantes realidades econômicas e culturais. Essas relações e responsabilidades são propostas e tendem a mudar ao longo do tempo.
Torna-se cada vez mais aceitável, a que as mulheres devam desempenhar um papel cada vez mais importante na gestão da água, e este papel poderia ser reforçado através da estratégia de mainstreaming de gênero.
A importância de envolver homens e mulheres na gestão da água e saneamento, e ainda um maior acesso às questões relacionadas, vem conquistando um reconhecimento contínuo a nível global, o que a partir de 1977, quando ocorreu a Conferência das Águas das Nações Unidas, em Mar del Plata; o Encontro Internacional de Água Potável e Saneamento de (1981 -90), e a Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente, que aconteceu em Dublin em (1992), viabilizaram explicitamente, o reconhecimento ao papel central da mulher na provisão, gestão e proteção da água.
Nesse aspecto ainda é possível avaliar a relação e o envolvimento das mulheres na gestão da água, junto ao texto da Agenda 21 (Cap.18), e ainda junto ao Plano de Implementação de Joanesburgo . Além disso, a resolução que institui a Década Internacional para Ação 'Água para a Vida "(2005-2015), apela à uma participação efetiva das mulheres e a necessária participação nos esforços do desenvolvimento, relacionados com a água.
As diferenças e desigualdades entre homens e mulheres influenciam a forma como os indivíduos respondem às mudanças na gestão dos recursos hídricos. Compreender os papéis de gênero, relações e desigualdades, possibilitam um contributo as escolhas que as pessoas fazem e suas diversas opções. O envolvimento dos homens e mulheres em iniciativas de recursos hídricos integrados, aumentam a eficácia e eficiência destas iniciativas.
Sem atenção específica às questões de gênero, e iniciativas propostas, os projetos podem reforçar as desigualdades entre homens e mulheres e até mesmo aumentar a disparidade de gênero.
Sexo, Água e os ODM
As Metas, tais como as que estão relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relativas à utilização e preservação da água, não são susceptíveis em serem alcançadas, a menos que as perspectivas de gênero estejam integradas nas atividades de planejamento e implementação.
A Redução do tempo, saúde e prestação de serviços de água, é passível de terem seus encargos melhorados, o que proverá às mulheres mais tempo junto aos empreendimentos produtivos, a educação de adultos e atividades de capacitação e lazer.
O conseqüente acesso as instalações de água e saneamento, aumentam a privacidade e são coeficientes na redução em risco de assédio as mulheres e meninas, onde, em muitas regiões são assaltadas durante a coleta de água
As maiores taxas de sobrevivência infantil é um precursor para a transição demográfica, sendo que, menores taxas de fertilidade possibilitam a redução das responsabilidades domésticas das mulheres, e efetivamente viabilizam as possibilidades de desenvolvimento pessoal.
O que é "gender mainstreaming"?
As questões de gênero integradas ao processo, geram uma avaliação das implicações relacionadas as mulheres e homens em qualquer ação planeada incluindo, legislação, políticas ou programas, em todas as áreas e em todos os níveis. É uma estratégia para preservar as mulheres, bem como as preocupações dos homens, mediante a experimentação de uma dimensão integrada ao projeto, implementação, monitoramento e avaliação de políticas e programas em todas as suas esferas, para que mulheres e homens se beneficiem igualmente.
Você sabia que o ato de buscar a água, como ainda ocorrem em regiões do Brasil e em várias partes do mundo, são fatores que indicam a desigualdade de gênero.
Em Benin rural, meninas com idades entre 6 e 14 anos, gastam em média, uma hora por dia para recolher água em comparação aos 25 minutos que gastam os meninos seus irmãos?
No Malawi, são grandes as variações na quantidade de tempo alocado para a coleta de água com base em fatores sazonais, mas as mulheres consistentemente, ocupam quatro a cinco vezes mais tempo que os homens nessa tarefa.
Na Tanzânia, uma pesquisa constatou que a freqüência escolar indicam 12% mais elevada, para as meninas em casas localizadas a 15 minutos ou menos, distante de uma fonte de água, do que em casas que distam a uma hora ou mais. Nesse contexto as taxas de escolarização relativas aos meninos parecem ser bem menos afetada pela distância das fontes de água.
Em 12% dos lares, crianças são as principais responsáveis pela coleta de água, com meninas menores de 15 anos de idade, duas vezes mais propensas a carregar essa responsabilidade, o que ocorre também com meninos em idade inferior a 15 anos, fato também visível no Brasil.
Uma investigação que aconteceu na África sub-saariana sugere que mulheres e meninas em países de baixa renda gastam em média, 40 bilhões de horas por ano, só em coleta de água, o equivalente a um ano de trabalho acumulado pela força inteira que despende só a França.
Na África, 90% do trabalho de recolha de água e madeira para o uso doméstico, e preparação de alimentos, é feito por mulheres. Proporcionar acesso à água potável próximo a essas casas, possibilita uma drástica redução nas cargas horárias de trabalho das mulheres, o que disponibiliza tempo livre para que se dediquem a outras atividades econômicas. Para suas filhas, este tempo poderá ser utilizado na freqüência as escolas.
O saneamento é um dos principais desafios enfrentados para superar as desigualdades de gênero
O acesso inadequado aos serviços de saneamento e de higiene, segurança e privacidade, é fonte de desconforto, vergonha e insegurança física para milhões de mulheres em todo o mundo. As normas culturais frequentemente, tornam inaceitáveis as mulheres serem vistas durante o ato de suas necessidades fisiológicas, o que força muitas delas, a saírem de suas casas antes do amanhecer ou após o anoitecer, visando manter sua privacidade.
Quando mulheres são obrigadas a esperar até o anoitecer para atenderem as suas necessidades fisiológicas, que ocorrem ao ar livre, essas tendem a beberem menos água durante o dia, resultando em todos os tipos de problemas de saúde, a exemplo das infecções do trato urinário.
Um problema que se tem observado é que os projetos de latrina, que ocorrem em regiões inóspitas, também no Brasil, são feitos especialmente voltados para o atendimento as escolas primárias e secundárias, e são principalmente, preparados por pedreiros do sexo masculino, o que faz com que, superestimem a construção de latrinas insensíveis às necessidades especiais das meninas. Isso resultou em meninas se afastarem das escolas, quando menstruadas, mesmo quando essas escolas possuam latrinas. No caso dos jovens meninos, a utilização dos urinóis, são em muitas vezes demasiadamente elevadas. Além disso, é importante que separem instalações sanitárias construídas para os meninos, a fim de propor a esses, o respeito ao direito das meninas em utilizar os espaços voltados as mesmas.
Fontes:
-Guia de recursos: A integração do género na água. Das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 2006/Sexo, água e saneamento. Resumo da política. Força Tarefa Interagencial de Gênero e Água, 2006
-Mulheres 2000 e seguintes. Mulheres e água. UNDESA, 2005./Dignidade, Saúde e Desenvolvimento: O que será preciso? Millennium Força-tarefa sobre Água e Saneamento, 2005.