Cortes
visam beneficiar pequenos e favorecer preservação, dizem ministros.
Governo
enviará MP para suprir vácuos deixados com mudanças ao texto.
por Fabiano Costa e
Priscilla Mendes
A presidenta Dilma Rousseff
fez 12 vetos e 32 modificações ao novo Código Florestal, informaram nesta
sexta-feira (25) os ministros da Advocacia Geral da União (AGU), do Meio
Ambiente, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário.
O objetivo dos cortes e
mudanças no texto aprovado no Congresso, de acordo com o governo, é
inviabilizar anistia a desmatadores, beneficiar o pequeno produtor e favorecer
a preservação ambiental. Os vetos ainda serão analisados pelo Congresso, que
tem a prerrogativa de derrubá-los.
“O veto é parcial em respeito ao Congresso Nacional, à democracia e ao
diálogo com a sociedade. Foi motivado, em alguns casos, pela segurança
jurídica. Em outros, pela inconstitucionalidade" Izabella Teixeira,
ministra do Meio Ambiente.
O prazo para sanção do
texto, que trata sobre a preservação ambiental em propriedades rurais, vencia
nesta sexta. Para suprir os vácuos jurídicos deixados com os vetos, a presidenta
Dilma Rousseff vai assinar uma medida provisória que será publicada na
segunda-feira (28) no "Diário Oficial da União" juntamente com o
Código Florestal, informou o ministro da AGU, Luís Inácio Adams.
"São 12 vetos, são 32 modificações, das quais 14 recuperam o texto do
Senado Federal, cinco respondem a dispositivos novos incluídos e 13 são
adequações ao conteúdo do projeto de lei. Uma medida provisória deverá ser
publicada em conjunto com a publicação dos vetos na segunda-feira",
afirmou Adams.
No Congresso, ministros de
Dilma participaram das discussões para o texto aprovado no Senado. No entanto,
o projeto foi modificado na Câmara em uma derrota imposta ao governo pela
bancada ruralista.
Artigo
vetado
Entre os artigos vetados
está o que aborda a recuperação de matas em Áreas de Preservação Permanente
(APPs), que são os locais vulneráveis, como beira de rios, topo de morros e
encostas. O tema foi um dos mais polêmicos durante a discussão no Congresso.
O primeiro texto aprovado na
Câmara previa redução dos atuais 30 metros para 15 metros de recuperação de
mata para propriedades com rios de largura de até 10 metros, mas deixava a
cargo dos estados a possibilidade do que poderia ser plantado em APPs. Depois,
o Senado voltou a alterar para obrigar a recomposição em pequenas propriedades
em até 20% da propriedade e estabeleceu recuperação de 30 metros e no máximo de
100 metros para propriedades maiores do que quatro módulos fiscais - o módulo
varia entre estados de 20 a 440 hectares.
Quando o texto voltou à
Câmara, o relator do projeto de reforma do Código Florestal, deputado Paulo
Piau (PMDB-MG), retirou os percentuais mínimos de recuperação das APPs e deixou
a cargo dos estados a faixa de recomposição. Isso era interpretado como uma
possível anistia a desmatadores, porque poderia liberar quem suprimiu vegetação
de recuperar as matas. Em razão disso, o artigo foi vetado pela presidenta
Dilma.
Pela proposta nova do
governo, voltam as faixas de recuperação, sendo que cada tamanho de propriedade
terá uma faixa diferente. Para propriedades de até 1 módulo, serão 5 metros de
recomposição, não ultrapassando 10% da propriedade. Para propriedades de um a
dois módulos, a recomposição é de 8 metros, até 10% da propriedade. Os imóveis
de dois a quatro módulos terão de recompor 15 metros, não ultrapassando 20% da
propriedade. Acima de quatro módulos, a recuperação deve ser entre 30 metros e
100 metros.
"Os grandes têm grande extensão de propriedade e têm condição de
recuperar todas as áreas de preservação permanente", destacou a
ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Segundo a ministra do Meio
Ambiente, 65% do total de imóveis rurais no Brasil têm até 1 módulo fiscal e
ocupam apenas 9% da área agrícola do país. As propriedades com mais de 10
módulos rurais, por sua vez, representam 4% do total de imóveis do país, e
ocupam 63% da área produtiva agrícola.
Motivos
dos vetos
Izabella Teixeira destacou
que a insegurança jurídica e a inconstitucionalidade levaram aos 12 vetos. Ela
falou que o objetivo foi também "não
anistiar o desmatador, preservar os pequenos e responsabilizar todos pela
recuperação ambiental".
"O veto é parcial em respeito ao Congresso Nacional, à democracia e ao
diálogo com a sociedade. Foi motivado, em alguns casos, pela segurança
jurídica, em outros pela inconstitucionalidade."
"O Código não é dos ruralistas nem dos ambientalistas, é o código dos
que têm bom senso", completou o ministro da Agricultura, Mendes
Ribeiro.
Para o ministro do
Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, "não
vai haver anistia" com o novo Código Florestal.
"Estamos dizendo que não vai haver anistia para ninguém, todos terão que
contribuir para a recomposição de áreas de preservação permanente que foram
utilizadas ao longo dos anos, mas estamos dizendo que essa recomposição vai
levar em consideração proporcionalmente o tamanho da propriedade. Estamos
estabelecendo um princípio de justiça."
Votação
difícil
O código, que está em
discussão no Congresso desde 1999, já havia sido aprovado pelos deputados em
maio de 2011, em uma derrota do governo imposta pela bancada ruralista.
Em dezembro, o texto chegou
ao Senado, onde passou por ajustes, com alterações que atendiam à pretensão
governista. Por ter sido modificado pelos senadores, voltou à Câmara, onde, em
abril, foi alterado de novo,
contrariando novamente o governo.
Ao lado de ministros e
técnicos da área, Dilma vinha analisando o texto desde que chegou à Casa Civil,
em 7 de maio. Somente neste mês, a presidenta reuniu-se pelo menos dez vezes
com a ministra do Meio Ambiente. No último final de semana, passou a tarde com
os ministros Pepe Vargas, Mendes Ribeiro, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Luiz
Inácio Adams para discutir os vetos ao texto.
'Veta,
Dilma'
Desde que foi aprovado no
Congresso, o novo código vem gerando polêmica entre ambientalistas e
ruralistas. Movimentos organizados por entidades de proteção ambiental, como o
“Veta, Dilma” e o “Veta tudo, Dilma” se espalharam pelas
redes sociais.
Personalidades como Fernanda
Torres e Wagner Moura também se mobilizaram. No início do mês, a atriz Camila
Pitanga chegou a quebrar o protocolo em um evento em que era a mestre de
cerimônias - e do qual Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
participavam -, para pedir: “Veta, Dilma”.
O cartunista Maurício de
Souza divulgou esta semana em seu Twitter um quadrinho em que aparece o
personagem Chico Bento dizendo: “Veta
tudim, dona Dirma”.
Ator vestido de Dilma Rousseff simula a presidente assinando o veto no Código Florestal, em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. (Foto: Ueslei Marcelio/Reuters)
Publicado originalmente em G1 política
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