Dinalva Heloiza
Com um amplo quadro de atividades
e uma programação que se estendeu do dia 02 ao dia 07 de maio, Goiânia foi palco
de uma das maiores conferências mundiais sobre pesquisa do algodão, a 6ª Conferência
Mundial de Pesquisa de Algodão e a Conferência Bienal do ICGI (World Cottom Research Conference 6 e
Biennial Conference of the ICGI), que juntas apresentaram as mais recentes descobertas em pesquisas e
inovação, responsáveis pelo crescimento do setor e aumento da qualidade do
algodão produzido em todo o mundo, em especial no Brasil. A Conferência aconteceu
no espaço do Centro de Convenções de Goiânia.
Foi convidado um grupo formado
por representantes de seis países da América Latina, destes convidados na AL,
cinco apresentaram trabalhos científicos durante o evento. O representante da
FAO no Brasil, Alan Bojanic, também participou do evento, quando afirmou que a
Conferência é um dos mais importantes espaços da cadeia produtiva e ao fortalecimento
da Cooperação Sul-Sul.
Representante da FAO no Brasil - Alan Bojanic
“A Cooperação Sul-Sul é um
instrumento importante para buscar mecanismos de sucesso e compartilhá-los
entre os países, promovendo um valioso intercâmbio. A experiência da FAO com
esse modelo de cooperação triangular tem se mostrado bastante efetiva e
esperamos que os resultados sejam cada vez melhores e que vidas e histórias de
agricultores e agricultores familiares possam ser mudadas a partir desse
trabalho”, ressaltou Bojanic.
A conferência também promove a
chance de conhecer e se atualizar sobre os últimos resultados das principais
pesquisas realizadas no mundo sobre o tema, assim como promover a troca de
experiências entre os países.
Entre os temas abordados na conferência
estão o melhoramento e o desenvolvimento de cultivos; a proteção da cultura
(incluindo doenças e pragas e seu manejo); as tecnologias de colheita e
pós-colheita; o processamento e a qualidade da fibra e economia e
competitividade da cultura do algodão.
Outros temas foram a
dinâmica social da cultura e transferência de tecnologia; a medição da
sustentabilidade nos sistemas de produção de algodão; a questão de gênero na
cadeia produtiva, entre outros.
A participação da Argentina,
Brasil, Equador, Colômbia, Paraguai e Peru faz parte de um conjunto de ações
desenvolvidas pelo governo brasileiro — por meio da Agência Brasileira de Cooperação
(ABC) —, pela FAO e pelos países parceiros do projeto Fortalecimento do Setor
Algodoeiro por meio da Cooperação Sul-Sul, que tem como um dos eixos o trabalho
de promoção do desenvolvimento das capacidades desses países no setor
algodoeiro.
Os países da América Latina, parceiros
nesse projeto, têm o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável
da cadeia de valor do algodão e ampliar as capacidades e os níveis de
coordenação interinstitucional para o fortalecimento do setor.
O projeto de Cooperação Sul-Sul
Trilateral, coordenado pela FAO e pela ABC, tem suporte técnico da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Associação Brasileira das
Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), da Associação
Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e do Ministério do Trabalho,
Emprego e Previdência Social do Brasil (MTE), por meio da Secretaria Nacional
de Economia Solidária (Senaes), com o apoio financeiro do Instituto Brasileiro
do Algodão (IBA).
Ao todo, dez cientistas apresentaram
resultados de pesquisas e inovações para a cotonicultura. São pesquisadores da
Alemanha, China, Estados Unidos, Austrália, Itália, Índia e Brasil, trazendo o
que há de mais recente e avançado na ciência mundial voltada ao algodão.
O brasileiro Camilo de Lelis
Morello foi um dos dez cientistas selecionados para se apresentar na Conferência.
Residente em Goiânia, sua pesquisa é de interesse direto dos produtores do
Centro-Oeste, ao tratar do desenvolvimento do germoplasma do algodão adaptado
ao Cerrado brasileiro.
Visto que o evento ocorreu durante
a temporada de plantio do algodão, os participantes tiveram a oportunidade de
realizar uma visita técnica a uma fazenda de algodão e uma fiadeira. O
participante também teve a chance de conferir a tecnologia usada pelos
produtores brasileiros de algodão. Outra visita técnica visou detalhar o
trabalho do laboratório da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (AGOPA)
e a estação experimental da Embrapa.
As atividades apresentadas
somaram 251 apresentações científicas de 42 países, aonde a 6ª Conferência
Mundial de Pesquisa em Algodão (WCRC-6) e a Conferência Bianual do Genoma do
Algodão, chegaram ao final com um balanço positivo para a ciência. O
encerramento das plenárias, mesas-redondas e painéis ocorreu com a cerimônia de
agradecimento pelo presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão
(Agopa) e da Comissão Organizadora do WCRC-6, Luiz Renato Zapparoli.
“Tenho certeza de que essa rede
de contatos vai aumentar a troca de conhecimento e, em breve, os resultados
estarão disponíveis para que o algodão recupere sua cota de mercado, gerando
renda, sobretudo, para os produtores”, declarou, ao afirmar que quanto mais
forte for o mercado de algodão, mais recursos estarão disponíveis à pesquisa.
Zapparoli também ressaltou que o setor não pode ficar indiferente quanto à
pobreza que ainda persiste no campo, em várias partes do mundo. “A indiferença
frente à dor de alguém nos torna menos humanos”, disse, citando o trabalho
realizado pela Embrapa com países africanos e sul-americanos, para a
transferência de tecnologia, como exemplo do que as instituições do setor
cotonicultor podem fazer por um mundo melhor.
A professora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Maitê Vaslin, veio ao WCRC-6 para divulgar sua
pesquisa e conferir o que está sendo feito em outros países. Ela ministrou uma
palestra sobre o gene de resistência à doença azul do algodão e apresentou um
painel do sequenciamento genético do vírus vermelho. “Os trabalhos são muito
bons, mas sinto a falta de uma presença maior dos pesquisadores brasileiros,
que têm realizado importantes trabalhos na área”, disse.
Marina Rondon e Paulo Aguiar são
pesquisadores da TMG, empresa de melhoramento do algodão. Eles vieram de
Rondonópolis, no Mato Grosso, para conhecer as pesquisas em andamento e os
problemas futuros que podem chegar ao Brasil. “Há doenças e pragas lá fora que
podem chegar aqui, por isso estamos direcionando novas pesquisas e nos
adiantando a possíveis problemas”, afirmou Marina.
Lawrence Malinga veio de
Johanesburgo, na África do Sul, para apresentar um painel sobre o controle do
neumatóide, um verme que ataca plantações de algodão em quase todo o mundo.
Malinga destacou a última plenária do evento, sobre o manejo integrado de combate
a pragas, ministrada pelo Dr. Keshav Raj khranti, do Instituto Central de
Pesquisa em Algodão, na Índia. “A África do Sul e a Índia enfrentam problemas
similares quanto ao algodão. Por isso é importante aprender diferentes formas
de combate a esses problemas que nos são comuns”, explicou.
Trabalhos apresentados
ü Escritório
Regional da FAO para América Latina e Caribe (FAORLC)
- Perspectivas
para o desenvolvimento do algodão no Paraguai, segundo a visão dos custos
de transação.
- Comunicação
para o desenvolvimento – mecanismos modificadores de transferência de
tecnologia para agricultores familiares algodoeiros.
- Mulheres algodoeiras: a perspectiva de gênero na cadeia de valor na Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Peru.
ü Argentina
- Quinze
anos de algodão transgênico na Argentina: um balanço parcial.
- O uso de cultivos de inverno como fonte complementar de nitrogênio para a produção de algodão com irrigação.
ü Brasil
- Algodão
Paraíba: uma proposta de desenvolvimento local integrado no âmbito da
agricultura familiar.
ü Paraguai
- Algodão
em plantio direto por tração animal na agricultura familiar.
- IPTA
212 e IPTA 232: duas novas variedades paraguaias do algodão (gossypium
spp).
- Parâmetros
produtivos para o setor algodoeiro no Paraguai: análise da linha de base
sobre agricultura familiar.
- Parâmetros econômicos para o setor algodoeiro no Paraguai: análise da linha de base sobre agricultura familiar.
ü Peru
- Espécies
nativas de nematoides entomopatogênicos com potencial para o controle de
spodoptera frugiperda smith. e s.
eridania (stoll) (lepidoptera: phalaenidae) no Peru.
- Resposta
de uma linhagem de algodão, variedade tanguis para a inoculação com
estirpes selecionadas de bactérias promotoras do crescimento (pgpr) em
condições controladas, no departamento de Ica, Peru.
- Melhoramento
genético de variedades de fibra extralonga no Peru.
ü Colômbia
- Desenvolvimento
de duas provas piloto de produção de fibra de algodão por meio de dois
sistemas produtivos: orgânico e de baixo impacto ambiental.
O Projeto com vistas a sustentabilidade do evento,
organizado para o WCRC foi destaque pela iniciativa que focou minimizar os impactos
socioambientais dos resíduos descartáveis na ocasião. Houve critérios do início ao fim da Conferencia,
que ocorreu desde a escolha dos materiais que provocam menor impacto ambiental,
como copos biodegradáveis até os materiais reciclados para montagem de estandes e
painéis. Outro dos compromissos foi o de neutralizar as emissões de gases de
efeito estufa com o plantio de 3,6 mil árvores. Vários produtores de Goiás já
ofereceram áreas para o plantio das árvores e o cronograma de ação está em fase
de conclusão.
Uma parceria com a Cooper Rama
(Cooperativa de Catadores) possibilitou a gestão dos resíduos
recicláveis gerados na preparação e realização do WCRC-6, o que gerou 160,37
quilos de materiais doados, tais como chapas de alumínio, latas, garrafas pet, papéis
e óleo vegetal, o que representou um aumento de
renda de 16.6% a mais para 20 famílias que dependem da cooperativa para viver.
Essas famílias também receberam 115 quilos de alimentos, além do envolvimento
desses cooperados na sensibilização e na capacitação das equipes de montagem,
limpeza, alimentação e equipamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente essa Postagem