Em junho, a Assembleia Geral das Nações Unidas, composta por 193 membros, elegeu a ministra das Relações Exteriores do Equador, María Fernanda Espinosa Garcés, à presidência da 73ª sessão, que teve início em 18 de setembro, se estendendo até 05 de outubro, quando o Painel de Alto Nível, onde os chefes de estados e governos dos países membros, estarão presentes ocorre em 25 de setembro, na terça feira, quando o Brasil, tradicionalmente, abre os discursos da Cúpula Mundial da 73ª Assembleia. A Sra. Espinosa é a quarta mulher a ocupar essa posição na história da cúpula mundial, e a primeira mulher da região da América Latina e do Caribe a presidir a Assembleia.
Nas suas observações e felicitações, o Secretário-Geral António Guterres apresentou-a como uma diplomata experiente e política eficiente que entende “a necessidade de cooperar na abordagem dos atuais desafios globais”.
Além de atuar como Ministra das Relações Exteriores e Mobilidade Humana, a Sra. Espinosa também foi Ministra da Defesa e Coordenadora do Patrimônio Cultural e Natural de seu país.
Ela foi a primeira mulher nomeada Representante Permanente do Equador em Nova York, após ter atuado como embaixadora em Genebra.
“Seu conhecimento direto das negociações intergovernamentais sobre direitos humanos, mulheres indígenas e mudanças climáticas ajudará a Assembleia Geral a avançar na agenda das Nações Unidas”, disse Guterres.
Como escritora e poetisa, Espinosa publicou mais de 30 artigos acadêmicos sobre o Rio Amazonas, cultura, patrimônio, desenvolvimento, mudanças climáticas, propriedade intelectual, política externa, integração, defesa e segurança. Ela também publicou cinco volumes de poesia e recebeu o Prêmio Nacional da Poesia Equatoriana em 1990.
María Fernanda iniciou suas atividades no principal cargo da Assembleia, na tarde de segunda-feira, quando recebeu o martelo histórico de Miroslav Lajcák, o presidente da 72ª sessão.
Falando na sede da ONU, em Nova York, após sua eleição em junho, ela prometeu liderar a Assembleia de maneira a fortalecer o multilateralismo e a estabelecer o melhor cumprimento de seus compromissos. A ONU News conversou com a Sra. Espinosa antes de assumir o cargo e perguntaram lhe quais eram suas prioridades para a 73ª sessão.
Ms. Espinosa: Acho que estamos realmente vivendo em um ambiente muito conturbado, e creio que seja muito importante que realmente trabalhemos para o fortalecimento do sistema multilateral e a revitalização das Nações Unidas; vamos promover um trabalho eficiente visando as melhores conquistas.
Para usar um acrônimo que criei o “DARE”: ousar doar o nosso melhor, ousar melhorar a maneira como trabalhamos juntos dentro do sistema. DARE significa "Cooperação, Responsabilidade, Relevância e Eficiência".
O acrônimo DARE vai orientar meu trabalho como Presidente da Assembleia Geral durante a 73ª sessão. Assim, revitalizar e impulsionar o multilateralismo, revitalizar a Assembleia Geral, revitalizar o sistema das Nações Unidas. Creio que seja o que todos nós precisamos, e todos nós nos beneficiaremos de um sistema internacional forte baseado em regras.
María Fernanda Espinosa Garcés, então Ministra da Defesa Nacional do Equador, fala em um debate da Assembléia Geral sobre a garantia de sociedades pacíficas e sustentáveis em abril de 2014.
ONU News: Você falou de sete prioridades a sua Presidência, pode comentar sobre elas? Por que você escolheu sete?
Ms. Espinosa: Depois de conversar com os Estados Membros e analisar os 40 mandatos e mais de 15 eventos e conferências de alto nível ao longo da sessão, chegamos a sete prioridades.
Por que sete? Por que esse número é mágico. Porque precisamos doar sete dias por semana, precisamos trabalhar para os mais vulneráveis, os desfavorecidos, para os refugiados, os sete dias da semana. As mudanças climáticas não param nas sextas-feiras. Trabalharemos conforme necessário para cumprir as sete prioridades.
A primeira é a igualdade de gênero. Eu sou apenas a quarta mulher e a primeira mulher latino-americana a ter o privilégio e a honra de presidir a Assembleia Geral. Igualdade de gênero, com foco na capacitação das mulheres na política, capacitar as mulheres como arquitetas da implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, esse tema vai estar no topo das minhas prioridades.
Segundo, estaremos trabalhando em migração e refugiados, aproveitando este momento muito importante da adoção do Pacto Global sobre a Migração (Global Compact on Migration). Após a cúpula em Marrakesh, em dezembro, estaremos trabalhando no direito das pessoas, na mobilidade humana das pessoas e trabalhando duro na implementação do Pacto Global.
“Precisamos trabalhar sete dias por semana ... a mudança climática não termina às sextas-feiras; vamos trabalhar conforme necessário para cumprir as sete prioridades”.
A terceira prioridade será voltada ao meio ambiente, com basicamente duas áreas de trabalho: a avaliação dos três anos após o Acordo de Paris [sobre a mudança climática], especialmente os meios de implementação, ou seja, financiamento climático, tecnologias de baixo carbono e capacitação. Também vamos realmente pressionar por uma campanha para evitar a utilização dos plásticos. A proibição dos plásticos é uma questão relevante, pois a Assembleia Geral tem um papel muito importante a desempenhar na ação ambiental.
Trabalharemos pelos direitos das pessoas com deficiência. Isso também vai estar entre as sete prioridades. Tanto para universalizar a Convenção [em ...]. Estamos muito perto deste marco. Estamos quase lá. Trabalharemos para que todos os Estados Membros assinem a Convenção e se comprometam com os direitos das pessoas com deficiência. Paralelamente, trabalharemos também a acessibilidade e as questões de acesso ao trabalho decente para pessoas com deficiência.
Nossas prioridades são evidentemente, à Paz e a Segurança. E Paz e Segurança, mas com foco na abordagem preventiva, na abordagem de paz sustentada e enfocando o papel da juventude. Os Jovens são atores da construção de um mundo mais pacífico e mais seguro para todos. Isso também vai estar ligado a uma das principais estratégias de dissuasão, que é fornecer alternativas aos jovens, para lhes proporcionar oportunidades de emprego, para evitar que entrem em atividades de extremismo violento, por exemplo.
Mencionei também a prioridade à revitalização da ONU. Trabalharemos no sentido de impulsionar as atividades da Assembleia Geral para o trabalho, porque está na mesa, é um mandato sobre a reforma do Conselho de Segurança, mas também sobre a implementação da reforma que foi negociada por um ano inteiro pelos Estados Membros. Os três pilares da reforma: a reforma gerencial, a reforma da paz e da segurança e também o novo sistema de desenvolvimento. Esse também será um grande desafio entre nossas prioridades.
Nesse ano o trabalho decente e o crescimento econômico estão entre os seis ODS que serão avaliados durante o Fórum Político de Alto Nível sobre Desenvolvimento Sustentável. Então, vamos focar nosso trabalho também em torno do acesso ao trabalho decente. Nós estaremos nos unindo à OIT – Organização Internacional do Trabalho. A OIT está comemorando seu centenário este ano, e trabalharemos fortemente junto ao trabalho decente e ao crescimento econômico sustentável.
Foto da ONU / Loey Felipe
Foto da ONU / Loey Felipe
A Ministra das Relações Exteriores, María Fernanda Espinosa Garcés, do Equador, recém-eleita Presidente da 73ª Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, discursa aos Estados membros.
ONU News: Todos estes assuntos são bastante relevantes, mas se for escolher um - um com que as pessoas possam lembrar de você. Qual deles você coloca como o pilar da sua presidência?
Ms. Espinosa: Creio que talvez as três palavras-chave: que agregam a sigla “DARE”: Cooperação, Responsabilização, Relevância e Eficiência. Eu acho que isso denota a transparência de nosso compromisso, e melhora a maneira como seremos vistos em todo o mundo. Esse é um aspecto.
E talvez a segunda questão seja: o “lema” dessa sessão - o tema desta sessão - é tornar as Nações Unidas relevantes para todas as pessoas. Aproximar as Nações Unidas das pessoas e fazer com que as pessoas estejam mais próximas da ONU – estabelecendo uma abordagem centrada nas pessoas em cerne de nosso trabalho.
ONU News: Qual a sensação de ser a primeira mulher latino-americana a presidir a Assembleia Geral?
Ms. Espinosa: Pra mim é uma honra e um grande desafio. Nós mulheres, quando estamos em posições de poder ou em posições com altas responsabilidades, temos que nos doar duplamente. Eu creio que em um mundo que ainda é movido por homens, seja esse ainda um grande desafio, porque você tem que provar ao mundo que você é capaz, que você pode exercer seu papel, com igualdade, e foco em bem comum.
Então, você tem que ser eficiente, tem que se superar e representar mulheres de todo o mundo, não apenas mulheres latino-americanas e caribenhas, mas mulheres que sofrem por uma razão ou outra em causa da discriminação, porque são vítimas de conflitos, mulheres e meninas, que não conseguem realizar seus sonhos, porque vivem em contextos ou situações violentas e que realmente ameaçam seus direitos como seres humanos.
Há muito o que fazer e tenho muito orgulho em ser a primeira mulher, mulher latino-americana do Caribe, a ter o privilégio de liderar a Assembleia Geral.
María Fernanda Espinosa Garces é apenas a quarta mulher na história dos 73 anos das Nações Unidas foi eleita Presidente da Assembléia Geral, principal órgão deliberativo e de formulação de políticas da ONU. Ela é ministra das Relações Exteriores do Equador.
ONU News: Após ser eleita, você prometeu manter uma política de “porta aberta” durante sua presidência e agir como facilitadora imparcial, objetiva e aberta. Por que isso é importante para a Presidente da Assembleia?
Ms. Espinosa: Bem, acho que o papel do Presidente da Assembleia Geral evoluiu. Nos anos 80 e 90, era mais uma posição protocolar: o presidente de um país viria a Nova York e presidiria a Assembleia durante seu segmento de alto nível, de setembro a dezembro. Mas agora é uma posição política de alta responsabilidade, para realmente liderar os trabalhos da Assembleia Geral durante o ano inteiro.
“O papel do Presidente da Assembleia Geral evoluiu para uma posição de alta responsabilidade”
A agenda está cheia para o ano. Não é apenas liderar, mas também ser uma ponte para o consenso, uma promotora de diálogos, uma agente honesta que realmente leve os Estados Membros a tomar decisões em favor do estabelecimento dos três pilares da Organização contidos na Carta da ONU : A paz, o pilar da Segurança, o Pilar do Desenvolvimento e o Pilar dos Direitos Humanos.
Temos um guarda-chuva maravilhoso que nos resguarda - a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Também temos 40 mandatos para a Assembleia Geral este ano, o presidente tem que mostrar liderança para promover espaços de diálogo e acordo, para pressionar por consenso, e para pressionar os Estados Membros, para que eles possam concordar com soluções que são muito relevantes para o mundo atual.
ONU News: Você falou sobre o Pacto Global sobre Migração. Quais são as suas expectativas para a finalização do Pacto Global?
Ms. Espinosa: Bem, creio que estamos todos, muito ansiosos pelo encontro da Cúpula que acontecerá em Marrakesh, em dezembro. A ideia é que tanto os chefes de estado quanto os governos, se encontrem no mais alto nível político, para que possamos estabelecer o dever de casa à ser realizado.
O dever de casa é realmente construir o caminho à implementação, avaliação e tornar o Pacto Global uma ferramenta para o desenvolvimento de políticas nacionais adequadas, com efetivos compromissos políticos, o que o tornará um poderoso instrumento para guiar e normatizar a migração mundial. Há muitas expectativas e realmente estamos ansiosos em ver tantos chefes de estados e governos quanto pudermos, pois tanto o momento quanto a cúpula, necessitam de um impulso político muito forte.
Publicado originalmente em: ONU News
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente essa Postagem