Nunca alcancei o senso comum, com
que alguns se apresentam em defesa do caso Lula, não tripudio de sua pena, pois já está pagando pelos crimes cometidos, mas também não vejo alguém que eventualmente tenha um senso crítico. Alguém que em momento algum, durante sua vida
pública e exposição neste cenário, revelou possuir qualquer reconhecimento as suas falhas e aos erros que por décadas fomentou sua sede de
poder e sua gana política.
Ou mesmo que demonstrasse o necessário respeito às leis, à ordem e ao sistema judiciário
nacional. Ao contrário, Lula, estabeleceu um enredo que contraria todas as leis,
e ainda cria normas fictícias em contraponto aos atos judiciais, se posicionando
como vítima de um sistema político criado sob suas manobras.
Insensatamente replica suas
fantasias e sem nenhuma legitimidade, utiliza-se até mesmo do posicionamento
individual e independente de altos conselheiros internacionais, desfigurando
lhes, sua presteza solidária. E sem nenhum pudor, manipula à sua revelia, manobras
que caracterizam um discurso repleto de artimanhas, onde nem mesmo titubeou, em
nenhum momento diante de um possível mal estar internacional.
E desde esse momento ele, sua
defesa e correligionários, utilizam-se indevidamente desse posicionamento
solidário e independente, um instrumento, a defesa dos seus atos corruptos e ações
ilegítimas, através do qual passa a posar diante da sociedade brasileira e da comunidade
internacional, em sendo vítima de um sistema político criado sob o seu comando e
sob suas especulações, com o inteiro apoio de um partido vinculado a sua
autoria, que se encontra corrompido até a própria raiz de suas ideias.
O que significa que, se essa face
da moeda ganhar o jogo, haverá um novo regime copiado aos moldes do PCC, com o
comando direcionando suas ações ao governo diretamente do presídio de Curitiba.
É doloroso e vil, o que vem sendo
semeado desde a democratização do país no pós-ditadura, através de um sistema
político corrompido e omisso com o estado de direito, onde somente se
qualificou em perpetuar, replicar e aprofundar as mazelas herdadas do regime
militar cujas ações foram amplamente perpetuadas pela alta corrupção que ali existia,
e a ocultação dos crimes que ali se praticavam.
*A verdade é que durante o período
ditatorial houve, sim, corrupção e muitos crimes contra os direitos humanos. E foram
muitos. Mas havia também uma forte blindagem estatal, feita através da censura,
o que dificultava denúncias desse tipo contra os militares e seus aliados. Essa
prática era considerada estratégia de segurança nacional, uma vez que mantinha
a maior parte da população alheia aos acordos governamentais que envolviam
troca de favores, distribuição de cargos entre amigos e parentes, desvio de
verbas públicas, enriquecimento ilícito e pagamento de propinas, motivo esse em
grande parte responsável, pelos desaparecimentos, mortes e torturas que
ocorreram naquele período, contra aqueles que se rebelaram contrários a essas práticas.
Alguma semelhança com o candidato,
que promete retroceder nosso sistema político ao regime militar esclareço aos
desavisados, que mesmo diante de eventuais memórias ocultas ou mesmo desconhecidas,
a história é uma garantia das conquistas que uma sociedade alcança e em
especial dos direitos que alcançou, quando em garantia, há um futuro melhor pra
todos.
E mesmo diante das fantasiosas “estórias”
que vem se replicando até mesmo, pelo mote do atual presidente do STF, Dias Toffoli,
não existe mera coincidência. A ditadura existiu sim, e vivemos tempos
horrendos nesse período, e agora com o agravante, que o candidato promete
inclusive em seu discurso pós primeiro turno fortalecer os laços da família,
direcionando claramente seu foco a comunidade LGBT, em apoio à bancada
fundamentalista.
A corrupção no Brasil é um tema
bastante complexo, ainda que nos últimos anos tenha se transformado em uma
espécie de “forma de governo”. Corrupto é sempre o outro. Mas, na verdade,
mesmo sem admitir, um cidadão comum pode fazer parte da teia que envolve a
corrupção ao subornar um guarda, comprar o resultado de um concurso, negociar
com um fiscal para escapar de alguma lei. Para existir o corrupto, é preciso
existir o corruptor.
Os nostálgicos da ditadura, tanto
os oportunistas quanto os desavisados de hoje, gostam de dizer que “no tempo
dos militares não havia corrupção”. Isso não passa de engodo, corrupção havia.
Mas, havia também censura muitos escândalos sequer chegavam aos jornais. Mas,
mesmo assim alguns foram publicados por jornais que não podiam ser acusados de
“subversivos” ou “comunistas”. Pois alguns deles até mesmo apoiaram o golpe
militar.
A democracia nos possibilita saber
com maior agilidade quem corrompe e quem é corrompido, pois o sistema judiciário
tem mais independência em relação ao Poder Executivo, e a imprensa pode
investigar livremente casos de corrupção, e evidentemente o cidadão se sente
mais à vontade para fazer denúncias que envolvam autoridades. Nas ditaduras,
tudo isso é sem dúvida muito mais complexo.
O Ato Institucional Nº 5
(AI-5) prometia dureza contra os corruptos. Os militares anunciavam um
reino de terror contra os opositores e as virtudes públicas. Alguns até
acreditaram nisso. Mais de 1.100 processos foram instaurados pela Comissão Geral
de Investigações, ligada ao Ministério da Justiça, mas desse montante apenas 99
casos chegaram a algum termo, como confisco de bens dos envolvidos.
O próprio Geisel utilizou a
“corrupção das Forças Armadas” como uma das justificativas para iniciar a “abertura”
política e afastar os militares dos encantos e armadilhas do poder de Estado.
Embora não haja nenhuma denúncia de corrupção envolvendo diretamente os
generais-presidentes, muitos outros militares e civis foram alvo de denúncias
durante o regime militar.
“Escândalo Lutfalla” ou
corrupção no governo Geisel
No início do governo Geisel, explodiu o “escândalo
Lutfalla”, que envolveu o empréstimo de dinheiro público para uma empresa em
situação de falência. A empresa era de propriedade do sogro de Paulo Maluf, um dos condenados na
atualidade pela Operação Lava Jato, que cumpre pena, hoje em regime domiciliar
devido à sua saúde deficiente. Ligado ao regime, Maluf tinha sido prefeito
nomeado em São Paulo e se orgulhava de ter feito obras viárias na cidade. Ele
tinha muita influência nos meios militares, sobretudo com o grupo em torno
de Costa e Silva e Médici.
O Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi
contrário ao empréstimo ao grupo Lutfalla, dado o risco da operação, mas foi
obrigado a fazê-lo por “ordens superiores”. Em 1977 o caso foi divulgado, em
1980 foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigá-lo, mas o processo não andou e foi arquivado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF). Maluf foi eleito, indiretamente, governador de São Paulo em
1979, e ainda foi candidato à presidência da República em 1985.
“Caso Delfin” ou Corrupção no
governo Figueiredo
Já durante o governo Figueiredo, em 1983, a quebra do grupo
Coroa-Brastel fez surgir denúncias de que os ministros Delfim Neto (Planejamento) e
Ernani Galveas (Fazenda) teriam favorecido o grupo, desviando empréstimos
concedidos pela Caixa Econômica Federal. O caso foi aberto na justiça em 1985 e
julgado nove anos depois. O ex-ministro Galveas teve a denúncia rejeitada e Delfim
Neto, deputado federal à época, gozou de imunidade parlamentar e não foi a
julgamento. Ao falir, o grupo deixou 34 mil investidores financeiros sem
receber e os fatos permaneceram obscuros.
Os dois ministros, além de Mário
Andreazza (ministro do Interior), também foram envolvidos no “caso Delfin”. A
Delfin operava uma caderneta de poupança e atuava no crédito imobiliário, tipo
de investimento popular ligado ao mercado imobiliário e às políticas oficiais
de habitação. Isso levava a empresa a ter negócios, naturalmente, com o Banco
Nacional de Habitação (BNH), criado pelo governo militar para viabilizar
moradias populares, sob a batuta do Ministério do Interior. As relações entre a
Delfin e o BNH envolveram uma negociata com terrenos superfaturados, no qual o
banco quitava uma dívida da empresa, determinando um preço cerca de seis vezes
superior ao do mercado para os terrenos entregues.
O montante envolvido no escândalo
não era pequeno: 200 milhões de dólares, em valores da época. O caso foi
denunciado por funcionários do BNH à Folha de S. Paulo. Ao envolver nomes
poderosos do regime, abalou o já frágil quadro político do governo Figueiredo.
Mais uma vez a fórmula se repetia: diretores do BNH e funcionários técnicos de
carreira eram contra a operação superfaturada e lesiva aos cofres públicos, mas
tinham que obedecer a “ordens superiores”. Do ponto de vista legal, nada
avançou, apesar dos processos.
Na década de 1970, Haroldo
Leon Peres, governador do Paraná, foi pego extorquindo um empreiteiro em US$ 1
milhão. Na Bahia, Antônio Carlos Magalhães foi acusado em 1972 de beneficiar a
Magnesita, da qual seria acionista, abatendo em 50% as dívidas da empresa em
seu primeiro mandato no estado. Além disso, os ministros e servidores federais
dispunham de mordomias como jatos da Força Aérea à disposição, mansões com
piscina e dezenas de empregados e gastos pessoais sem limites. No governo
Médici, os generais de brigada que iam para Brasília contavam com US$ 27 mil
para comprar mobília. Tudo financiado pelo dinheiro público.
Em entrevista ao Instituto
Vladimir Herzog – instituto que leva o nome do grande jornalista que foi morto
pela ditadura, com o agravante de uma simulação de enforcamento - Pedro
Campos, professor do Departamento de História e Relações Internacionais da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro
“Estranhas Catedrais: as empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar,
1964-1988”, afirma que mesmo após esse tempo depois do fim da ditadura militar,
ainda sofremos as consequências do que foi feito naquela época. “O que
percebemos é que os grupos econômicos fortalecidos com a ditadura continuam
poderosos econômica e politicamente até os dias atuais e permanecem pautando o
Estado e as políticas públicas nos dias de hoje”, diz.
Conclusão
E assim nos vimos, diante um cenário,
que claramente desenha o velho ditado: “Se correr o bicho pega, se ficar o
bicho come”, onde a pessoa consciente não vê caminhos que demonstram que a
sociedade irá superar essa complexidade, ou mesmo de que forma ocorrerá essa
superação? Outra dúvida que me persegue,
qual será o tamanho do retrocesso e de que forma seremos afetados? Em especial a comunidade LGBTIQ+, as mulheres, negros,
e indígenas, e mesmo o próprio cenário econômico do país.
Outro fator que se apresenta
distinto nesse cenário, e alimentado por ambos os extremos, é o possível enfraquecimento
de nosso sistema jurídico e judiciário, e em especial da Operação Lava Jato. Esses
posicionamentos extremistas claramente indicam interesse nesse aspecto, centrados
agora em uma nova coalizão, com favorecimentos a elite e a grupos empresariais,
ao setor da mineração, ao agronegócio, a indústria das armas e as igrejas
fundamentalistas.
Tivemos a chance de iniciarmos um
processo a favor da paz, da educação de qualidade, da saúde, da segurança, e em
combate a corrupção. Tivemos a chance de aprofundar nossas escolhas e num
futuro próximo, fortalecer as bases necessárias para se ampliar e aprofundar os
direitos humanos e igualdade gênero, e tivemos a chance por muito mais.
Mas a imposição amplamente
compartilhada por aqueles que leem apenas o título das postagens, em especial
nas redes sociais, nos colocaram a todos, literalmente em uma “sinuca de bico”,
mas tendo um único cenário certo à frente, a desconstrução dos direitos
humanos, e à perpetuação dessa famigerada corrupção, que agora vem sendo
fomentada pelos dois lados em estabelecer-se constitucionalmente favorecendo o
seu próprio regime.
Eu acompanho o trabalho de Marina
Silva desde sua atuação junto ao Ministério do Meio Ambiente, fui sua eleitora
em 2010, posteriormente em 2014, e agora em 2018, com muito orgulho. Não
trabalho com a equipe de Marina Silva, como muitos já me perguntaram. Conheci Marina
Silva, muito rapidamente, uma vez quando ela esteve em Goiânia, em uma de suas
campanhas.
Acompanho seu trabalho e me
orgulho que a tenhamos em cenário político, e em minha opinião e de muitos
amigos e amigas que conheço, não existe escolha entre as opções que se
apresentaram pós o primeiro turno dessas eleições.
Por ser consciente com meu voto e
saber o valor que ele agrega a minha vida e a minha integridade, e por ter
ciência dessas influências que buscam se avizinhar, quando se opta pelo
duvidoso ou pelo obscuro, eu me posiciono nesse segundo turno com meu voto
#NULO, e não abro mão de minha escolha.
Não sou conivente com nenhum lado
daqueles que não nos apresentaram um Programa de Governo íntegro com as
demandas que se acumulam em cenário nacional, ao contrário se posicionam
perigosamente contrários à ampliação do estado de direito, das liberdades e da
democracia!
E espero que em 2022, os que
preservam esses valores sejam a grande maioria!
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