Dinalva Heloiza
Desde que iniciei meus estudos sobre políticas, percebi uma lacuna enorme na construção das políticas
públicas em relação ao teor que fundamenta as mesmas, o conceito humanidade e
sua perenidade. O ser humano é, e deve estar sempre no centro das atenções do
setor público. Em especial, em um estado democrático de direito, legitimado pela
representação pública, se faz obrigatório ao staff eleito, a prestação dos serviços essenciais e sua
continuidade, e o atendimento desde a base ao topo da sociedade em suas diversas
classes, diversidade e setores que essa abriga e necessita.
E tão somente, a partir da formulação
de políticas com base no desenvolvimento humano e sustentável, estabelece- se um atendimento legítimo a essa escolha.
O conceito de Desenvolvimento
Humano introduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) se estabelece como um referencial de diretrizes ao enfrentamento das
questões que emergem em cenário atual por todo o mundo, e tem como propósito o
desenvolvimento do ser humano, e não aos privilégios e acumulação de
riquezas.
O referido conceito traz consigo
a ideia de expandir, por meio de políticas públicas, as escolhas e
oportunidades de cada pessoa, e parte do propósito de que o desenvolvimento é
multidimensional, não considerando apenas a dimensão econômica, mas também as diversas
características, sejam sociais, culturais, políticas ou outras, que influenciam
a qualidade de vida.
Neste contexto, as Políticas
Públicas, como o conjunto de ações desenvolvidas pelo Estado diretamente ou
indiretamente, em parceira com organizações públicas ou privadas, visam
assegurar determinados direitos à cidadania, ou para determinado seguimento
social, cultural, étnico ou econômico, e devem ser as diretrizes para as
relações entre o poder público e sociedade e necessitam da mediação entre
atores da sociedade civil, setor privado e do Estado.
Já o conceito do Desenvolvimento
Sustentável, é definido pelo PNUD como aquele desenvolvimento que visa
atender as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das gerações
futuras ao atendimento de suas próprias necessidades”, em resumo é o
desenvolvimento que não esgota os recursos essenciais à perenidade da espécie
humana.
E é devido a uma ausência cada
vez mais constante do poder público na formulação de políticas específicas
neste contexto, que as sociedades vivem hoje uma crise de identidade determinante
pela velocidade da globalização e suas repercussões no universo do pensamento,
da vida prática das pessoas, de seus direitos e habitats. Até mesmo a polarização
entre os sistemas políticos corresponde a um colapso das utopias.
E esse é um cenário presente
no cotidiano de nossa sociedade, e em boa parte de países em todo mundo - e
mesmo após 20 anos de nossa entrada como humanidade,
no século XXI.
Enquanto governos ideológicos
insistem em desprezar a distinção que nos caracteriza, em Humanidade. Menosprezam ainda o contexto
civilizatório que essa distinção nos permite, a Humanitude.
Ao contrário atentam pela perpetuação
do milenar estigma – conhecido como “humildade”, tão fortemente propagado e enraizado
ao domínio das igrejas sobre as sociedades, e em especial, as mulheres, aos mais
vulneráveis, aos incautos e incultos.
Humildade, é um conceito
totalitário do “ter” daqueles que visam perpetuar o seu “jugo”, em detrimento
do “ser” da pessoa subjugada.
Enquanto a Humanitude é a nossa
abertura permanente ao Outro, nossas relações de ser humano para ser humano, o que determina
uma relação permanente de solidariedade, livre de manipulação – um impulso
espontâneo de acolher o Outro.
A Humanitude torna
possível a “conexão humano com humano”, e assim estabelece a base necessária para
uma cultura do “ser”, contrapondo ao seu oposto, a cultura totalitária do
“ter”, o que leva a relações permanentemente conflituosas de aquisição, ou
mesmo dominação.
Governo do Brasil veta a Agenda 2030 da ONU – no Plano Plurianual 2020
- 2023
Na contramão de todo esse
cenário, o obscurantismo que norteia as políticas do presidente Jair Bolsonaro
(sem partido), vetou a Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) ao
sancionar o Plano Plurianual da União (PPA) para o período de 2020 a 2023, em
dezembro de 2019.
Segundo nota emitida à época, a
decisão se deu após manifestações de “ordem técnica e jurídica que alegavam
inconstitucionalidade na eventual sanção do PPA com a Agenda 2030”.
O que prevaleceu na verdade, foram
os interesses conservadores do presidente e seus apoiadores, a exemplo das
bancadas BBB (Bíblia, Bala e Boi) e suas políticas ideológicas de extrema
direita, cujo foco tem sido o desmonte das instituições de Defesa e Fiscalização ambiental; da mesma forma as instituições de Direitos Humanos; a
Academia, a Ciência, a Educação, a Cultura, dentre outros e mais recente a Saúde.
Em meio a pandemia do Covid19, o
governo navega na contramão de todas as orientações estabelecidas pela OMS - a Organização
Mundial da Saúde, se omitindo diante das orientações da organização, e mesmo, utilizando se do extremo de manipular essas orientações, com vistas à creditá-las ao seu negacionismo da pandemia, o que justificaria seus atos de barbárie e descaracterizaria
sua responsabilidade como chefe de estado e o seu devido compromisso com a proteção
social da sociedade brasileira, diante da pandemia do Covid19.
E mesmo diante desse
caos, um sucessivo e generalizado desmonte dos direitos continua a vigorar, a exemplo da remoção
dos Quilombolas de suas terras, localizadas na área vizinha a base de Alcântara.
E o desmonte das instituições e instrumentos que fundamentam a legitimidade do Estado de Direito Laico, a sustentabilidade ambiental, a cidadania e a justiça social, o que nos assegura desde a CF-88, ao arcabouço de Tratados e Acordos Internacionais, Pactos e Declarações, e Agendas Internacionais, junto as organizações multilaterais, das quais o Brasil é ou foi membro e signatário, tais como a ONU e recentemente a OMC – de onde o Brasil saiu para se filiar a OCDE, o que já nos trouxe mais um retrocesso, perdemos o status de país em desenvolvimento, em razão de que, o Brasil não atendeu aos critérios necessários a sua entrada na OCDE.
E o desmonte das instituições e instrumentos que fundamentam a legitimidade do Estado de Direito Laico, a sustentabilidade ambiental, a cidadania e a justiça social, o que nos assegura desde a CF-88, ao arcabouço de Tratados e Acordos Internacionais, Pactos e Declarações, e Agendas Internacionais, junto as organizações multilaterais, das quais o Brasil é ou foi membro e signatário, tais como a ONU e recentemente a OMC – de onde o Brasil saiu para se filiar a OCDE, o que já nos trouxe mais um retrocesso, perdemos o status de país em desenvolvimento, em razão de que, o Brasil não atendeu aos critérios necessários a sua entrada na OCDE.
E assim a Agenda 2030 da ONU – onde
as políticas de desenvolvimento humano e sustentável, obrigatoriamente teriam
que ter um espaço a sua formulação em cenário nacional, com o veto presidencial, sem dúvida o Brasil mais uma vez, retrocede junto ao compromisso global essencial a civilização nesse terceiro milênio, as políticas de desenvolvimento humano e sustentável.
A Agenda 2030, foi acordada em
2015 com objetivos e metas a serem perseguidos pelos países signatários do
texto até 2030. A Agenda conta com um total de 17 objetivos que incluem a erradicação
da pobreza, fome zero e agricultura sustentável, saúde e bem-estar, educação de
qualidade, igualdade de gênero, água potável e saneamento, energia limpa e
acessível, crescimento econômico, inovação, cidades sustentáveis, consumo e
produção responsáveis, e ações contra as mudanças climáticas, entre outros.
Entenda o que perdemos com o veto presidencial.
A Origem da Agenda – Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio
Um novo modelo civilizatório em cenário
global, se tornou um esforço concentrado durante a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio 92, e reuniu
mais de 100 chefes de Estado na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, para
discutir como garantir às gerações futuras o direito ao desenvolvimento, em uma
escala global às tomadas de decisões que exigiam a entrada da humanidade no
século XXI.
Esse encontro deu origem a Declaração
do Rio sobre Meio Ambiente, onde os países concordaram com a promoção do
desenvolvimento sustentável, tendo em foco os seres humanos e a proteção do
meio ambiente como partes fundamentais desse processo. A partir de então foi
adotada a Agenda 21, a primeira Carta de Intenções para promover, em escala
planetária, um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI.
A essência da Agenda 21, trouxe
os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), um conjunto de resultados que
emergiram das cúpulas multilaterais realizadas durante os anos 1990 sobre o
desenvolvimento humano. O processo de construção dos ODMs contou com especialistas
renomados e esteve focado, principalmente, na redução da extrema pobreza.
A Declaração do Milênio e os 8 ODMs foram adotados pelos Estados-membros da ONU em 2000 e impulsionaram os países a
enfrentarem os principais desafios sociais no início do século XXI, e tiveram
em seu cerne uma data temporalmente delimitada a avaliação desses objetivos, o
ano de 2015.
Esses oito Objetivos foram o
primeiro arcabouço global de políticas para o desenvolvimento e contribuíram
para orientar a ação dos governos nos níveis internacional, nacional e local
por 15 anos.
Os ODMs reconheceram a urgência de combater a pobreza e demais privações generalizadas, tornando o tema uma prioridade na agenda internacional de desenvolvimento.
Os ODMs reconheceram a urgência de combater a pobreza e demais privações generalizadas, tornando o tema uma prioridade na agenda internacional de desenvolvimento.
Após 20 anos da Rio 92, em 2012, 193
delegações, além de representantes da sociedade civil, voltariam à cidade do
Rio de Janeiro para renovar o compromisso global com o desenvolvimento
sustentável. O objetivo da Rio+20 era avaliar o progresso obtido até então e as
lacunas remanescentes na implementação dos resultados das cúpulas anteriores,
abordando novos e emergentes desafios.
O foco das discussões da
Conferência, de forma especial abrangeram principalmente: a economia verde no
contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e o
arcabouço institucional para o desenvolvimento sustentável.
A Declaração Final da Conferência
Rio+20, o documento “O Futuro que Queremos”, reconheceu que a formulação
de metas poderia ser útil para o lançamento de uma ação global coerente e
focada no desenvolvimento sustentável. Assim, foi lançada as bases de um
processo intergovernamental abrangente e transparente, aberto a todas as partes
interessadas, para a promoção de objetivos para o desenvolvimento sustentável.
O Caminhos dos Objetivos do Milênio aos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável
Rumo a Agenda 2030
Essa orientação guiou as ações da
comunidade internacional nos três anos seguintes e deu início ao processo de
consulta global para a construção de um conjunto de objetivos universais de desenvolvimento
sustentável para além de 2015.
Em setembro de 2015,
representantes dos 193 Estados-membros da ONU se reuniram em Nova York e
reconheceram que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões,
incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito
indispensável para o desenvolvimento sustentável.
Ao adotarem o documento
“Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”
(A/70/L.1), os países comprometeram-se a tomar medidas ousadas e
transformadoras para promover o desenvolvimento sustentável nos próximos 15
anos sem deixar ninguém para trás.
A Agenda 2030 é um plano de ação
para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz
universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS,
e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro
dos limites do planeta.
São objetivos e metas claras,
para que todos os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem
no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias para
melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro.
Este é um plano para governos,
sociedade, empresas, academia e para você.
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