Dinalva Heloiza
Quando se observa o cenário dos países em desenvolvimento, onde
a crise ocorre num contexto de menor participação do estado, é possível
verificar riscos acumulados nos estratos mais vulneráveis, onde a maioria da população
se encontra na linha da juventude, fato este, que exige maior responsabilidade
dos governos ao desenvolver estratégias, e que não somente, visem o crescimento
econômico como saída para a crise, mas que se estabeleça objetivos amplos à
esse crescimento.
Neste cenário, faz-se imperativo e necessário implementar
abordagens e programas estratégicos abertos a participação de jovens, qualificá-los
e capacitá-los para fazerem parte das soluções. Isso envolve, abandonar a
discriminação por idade, deixar de inviabilizar as oportunidades aos jovens e
centrar-se em seus problemas e estigmas.
Em uma entrevista à SHSNews, Dina Krauskopf*, Diretora de
Projetos da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO - Chile), e
consultora de muitas organizações internacionais da ONU, sobre questões
relacionadas ao desenvolvimento do adolescente, lembra que, “os jovens são os
pilares naturais em uma resolução da crise, onde eles tem a capacidade de agir
como atores estratégicos ao seu próprio desenvolvimento. Se essas condições não
são oferecidas pelo estado, à partir de uma observação de que a crise não é
algo conjuntural, mas estrutural, estagna-se, pois os substitutos não estarão
preparados à exemplo do processo natural de seleção da vida, onde “cai o velho
e nasce o novo”.
O enfrentamento da crise, em particular nos países menos
desenvolvidos, deve alcançar os jovens como prioridade, viabilizando a busca por
melhores condições à cidadania, onde se estabelece a sua inclusão aos projetos
de cada país.
Quando as Nações Unidas proclamaram 1985 como “Ano
Internacional da Juventude,” houve um grande impacto, pois a iniciativa forneceu
um impulso significativo ao desenvolvimento da juventude. Centros de Pesquisas
foram estabelecidos em apoio à juventude na América Latina, redes de jovens,
agências governamentais nacionais e internacionais, até mesmo em alguns países se
estabeleceu ministérios, priorizando a prestação de serviços destinados aos
jovens, os quais não existiam antes.
A comunidade internacional e um conjunto de organismos
supranacionais, desenvolveram quadros e diretrizes operacionais com o objetivo
de implementar o surgimento de iniciativas em diferentes áreas do
desenvolvimento da juventude. Um grande leque de ações aprofundaram as
perspectivas e práticas sobre a juventude. Persiste em nossas sociedades um
reconhecimento insuficiente dos jovens como interlocutores das políticas,
cenários de exclusão e violência amplificam a problemática deste fator. A
necessidade ou mesmo a fragilidade de quadros normativos em políticas de estado
voltadas aos direitos da juventude, dificulta ainda mais as condições destes
jovens.
Um exemplo disso acontece hoje, a crescente demanda política
por legitimar a redução da maioridade penal, em um universo de questões onde é
notória a maior demanda desses jovens, um estado que lhes garanta educação com qualidade,
instituições que integrem instrução, qualificação e capacitação, fortalecendo
lhes a auto estima, com oportunidades de empoderamento ético, lhes permitindo
enfrentar com dignidade os futuros desafios e o atendimento de suas
necessidades.
Apocalípticas mudanças, tem produzido novas condições de
existência e trajetórias de vida, menos predeterminadas. Pessoas na fase
juvenil, já não correspondem à um pré-projeto para o futuro, a individualização
é cada vez maior, a sexualidade presente no momento atual, já não é mais a
mesma do período anterior. Suas práticas naufragam pelas incertezas, face à
imaginação, e sua aplicação, busca a alta capacidade de aprendizagem em poder
dos jovens. A participação dos jovens possibilita alterar o presente com
autonomia e identidade, projetando uma mudança social no futuro.
Houve mudanças no conteúdo participativo dos jovens, frente ao
exercício da cidadania. Mobilizações conjuntas são uma importante expressão, equivalente
aos movimentos sociais tradicionais: ações à curto prazo, apoiadas por recursos
tecnológicos avançados, conduzidas em um mundo cibernético, são resultados
palpáveis destas mudanças.
Os jovens se organizam para
reivindicar seus direitos, sua inclusão no mercado de trabalho, suas
necessidades em educação e outros fatores fundamentais ao seu universo. O meio ambiente
tem marcado prioridade e apoiam com ênfase oportunidades aos grupos
negligenciados e descriminados socialmente, (etnia, identidade sexual, sexo,
etc.), arte, cultura, lazer e maior acesso ao mundo digital.
O respeito pela diversidade e
individualidade, constitui o centro de suas práticas e muitos não se sentem relacionados
com estruturas sociais burocráticas. Mais que, se apoiar em ideologias e
partidos, os jovens manifestam suas expressões com ética, estética e na
utilização do espaço público.
O papel da ONU e suas principais organizações, como a UNESCO, tem se mostrado de grande
importância, uma vez que vários caminhos estão sendo construídos para a
inclusão da juventude junto ao desenvolvimento de suas sociedades, com a produção
de informação, publicação de livros e documentos de suporte técnico para os
atores-chave no desenvolvimento de programas e políticas, o fortalecimento de
grupos de jovens e redes de peritos que estão envolvidos com a construção do
conhecimento, além de oferecer treinamento aos jovens para papéis decisivos ao desenvolvimento
de políticas, programas em nível estadual e gerenciamento de organizações não-governamentais,
estas são algumas das orientações que contribuem para a projeção e consolidação
do progresso, um compromisso da instituição com a sociedade global.
A eventual adoção de leis e políticas em nível nacional
implica uma aceleração dos processos de participação dos adolescentes e jovens
e exigirá quadros técnicos, com jovens formados em desenvolvimento e em direitos,
setores relevantes à construção de abordagens substanciais às novas gerações, com
estilos e compromissos de gestão para as questões da juventude com coordenação inter
setorial em todos os níveis.
A juventude inserida na agenda dos governos e da sociedade num
todo, é um processo longo e complexo onde as organizações das Nações Unidas têm
desempenhado um papel significativo, contínuo e de elevada importância.
*Dina Krauskopf foi entrevistada por Bérénice Mayor da
SHSNews
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