Dinalva Heloiza
“Os professores são a força mais influente e poderosa para a equidade,
acesso e qualidade na educação”
Em 5 de Outubro de 2016, quando
se celebrou o Dia Mundial dos Professores,
a UNESCO - Organização das Nações
Unidas para Educação, Ciência e Cultura, em conjunto com as principais agências da ONU,
fez um alerta sobre o déficit no número de docentes necessários em todo o planeta.
Segundo a organização, são
necessários 69 milhões de professores para que as metas universais de educação
sejam atingidas até 2030. Além da falta de professores, o mundo enfrenta outro
problema: 263 milhões de crianças e de jovens que estão fora das escolas.
Hoje 10 dias após, o Brasil
celebra o Dia do Professor, uma data em que há muito deveria ter sido
estabelecida como um marco à valorização destes profissionais, responsáveis pelo desenvolvimento humano de todos, um direito constitucional e o maior capital econômico de qualquer civilização que se preze. Um divisor de
águas inerente à construção do desenvolvimento com sustentabilidade, essencial ao
crescimento ético e justo de toda sociedade.
Em tempos atuais, o Brasil experimenta
as consequências do baixo interesse pela docência. Segundo estimativa do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no
que se relaciona ao Ensino Médio e as séries finais do Ensino Fundamental o
déficit de professores com formação adequada à área que lecionam chega a 710
mil. E não se trata de falta de vagas. "A queda de procura tem sido imensa”.
“Entre 2001 e 2006, houve o
crescimento de 65% no número de cursos de licenciatura. As matrículas, porém,
se expandiram apenas 39%", afirma Bernardete Gatti, pesquisadora da
Fundação Carlos Chagas e supervisora do estudo. De acordo com dados do Censo da
Educação Superior de 2009, o índice de vagas ociosas chega a 55% do total
oferecido em cursos de Pedagogia e de formação de professores.
O estudo indica ainda que a
docência não é abandonada logo de cara no processo de escolha profissional. No
total, 32% dos estudantes entrevistados cogitaram ser professores em algum
momento da decisão. Mas, afastados por fatores como a baixa remuneração (citado
nas respostas por 40% dos que consideraram a carreira), a desvalorização social
da profissão, o desinteresse e o desrespeito dos alunos (ambos mencionados por
17%), acabaram priorizando outras graduações. O resultado é que, enquanto
Medicina e Engenharia lideram as listas de cursos mais procurados, os relativos
à Educação aparecem bem abaixo.
Um recorte pelo tipo de
instituição dá mais nitidez à outra face da questão: o tipo de aluno atraído
para a docência. Nas escolas públicas, a Pedagogia aparece no 16º lugar das
preferências. Nas particulares, apenas no 36º. A diferença também é grande
quando se consideram alguns cursos de disciplinas da Escola Básica.
Educação
Física, por exemplo, surge em 5º nas públicas e 17º nas particulares.
"Essas informações evidenciam que a profissão tende a ser procurada por
jovens da rede pública de ensino, que em geral pertencem a nichos sociais menos
favorecidos", afirma Bernardete. De
fato, entre os entrevistados que optaram pela docência, 87% são da escola
pública. E a grande maioria (77%), mulheres.
Em pesquisa junto ao site da novaescola.org.br,
encontrei que esse perfil é bastante semelhante ao dos atuais estudantes de
Pedagogia. De acordo com o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade)
de Pedagogia, 80% dos alunos cursaram o Ensino Médio em escola pública e 92%
são mulheres.
Além disso, metade vem de famílias cujos pais têm no máximo a 4ª
série, 75% trabalham durante a faculdade e 45% declararam conhecimento
praticamente nulo de inglês. E o mais alarmante: segundo estudo da consultora
Paula Louzano, 30% dos futuros professores são recrutados entre os alunos com
piores notas no Ensino Médio.
O panorama desanimador é resumido por Cláudia*,
aluna de escola pública em Feira de Santana, a 119 quilômetros de Salvador:
"Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem
que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica
difícil".
Mensagem conjunta para o Dia Mundial dos Professores 2016
Para marcar o Dia Mundial dos
Professores, que aconteceu há 10 dias, em 5 de Outubro de 2016, a UNESCO, o UNICEF,
a OIT - Organização Internacional do Trabalho, e o Programa da ONU para o
Desenvolvimento, PNUD, e a Education International, estão pedindo uma ação
urgente.
Os chefes das agências da ONU, afirmam
que em razão dos professores contribuírem significativamente para moldar o
futuro de milhões de crianças e consequentemente um mundo melhor para todos, eles
tem o direito em receber treinamento e salário adequados, além de serem mais
valorizados.
Leia aqui a Mensagem conjunta para o Dia Mundial dos Professores 2016,
dos diretores da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura; da OIT - Organização Internacional do Trabalho; do UNICEF -
Fundo das Nações Unidas para a Infância; do PNUD - Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento e da Education International, por ocasião do Dia Mundial
dos Professores, 50º aniversário da Recomendação UNESCO/OIT de 1966, relativa à
situação dos Professores em 5 de outubro de 2016.
Valorizar os professores e melhorar a sua situação
A cada ano, no Dia Mundial dos
Professores, nós celebramos as contribuições ilimitadas realizadas por
professores em todo o mundo. Dia após dia, ano após ano, essas mulheres e esses
homens dedicados a orientar e acompanhar estudantes pelo mundo da aprendizagem,
ajudando-os a descobrir e a realizar seu potencial. Ao fazê-lo, os professores
não apenas ajudam a construir o futuro individual de milhões de crianças – eles
também ajudam a construir um mundo melhor para todos.
A Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável realiza essa importante conexão entre educação e
desenvolvimento. Ao adotar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, os
líderes mundiais se comprometem a “assegurar a educação inclusiva e equitativa
e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos”.
Esse objetivo não poderá ser alcançado se não aumentarmos a oferta de
professores qualificados e se não os empoderarmos para serem agentes da mudança
educacional na vida dos estudantes que eles ensinam.
A situação é urgente. Para se
alcançar a educação primária universal até 2030, precisamos de mais 24,4
milhões de professores. Esse número é ainda maior para a educação secundária,
área em que são necessários 44,4 milhões de professores.
Como podemos formar esses novos
professores e atraí-los para a profissão essencial do ensino quando, em todo o
mundo, muitos professores têm formação deficiente, são mal pagos e
subvalorizados?
Muitos professores ainda
trabalham com formas inadequadas de contrato e de pagamento. Com frequência,
eles vivem em condições difíceis e não têm formação inicial adequada,
desenvolvimento profissional continuado, nem apoio consistente. Às vezes, eles
são vítimas de discriminação e até mesmo de ataques violentos.
A docência poderia ser atrativa,
uma das profissões mais escolhidas – se os professores fossem valorizados de
forma compatível ao imenso valor que eles oferecem às nossas crianças, e se o
seu status profissional como educadores refletisse o enorme impacto que a sua
profissão tem no nosso futuro compartilhado.
Isso significa proporcionar a
eles formação e desenvolvimento continuados, para apoiá-los em seu papel
fundamental de educar todas as crianças, em todos os contextos – incluindo as
comunidades mais pobres e mais remotas, bem como nas comunidades que passam por
situações de crise. Isso significa compensá-los de maneira adequada e fornecer
a eles as ferramentas de que precisam para desempenhar suas atividades
indispensáveis.
Isso significa colocar em prática políticas que salvaguardem e
reforcem o status dos professores – começando por se dar aos professores um
lugar na mesa e um papel ativo na tomada de decisões que afetam o seu trabalho.
Por fim, isso significa melhorar a eficiência e a eficácia dos sistemas
educacionais, em todos os níveis.
Há 50 anos deste dia, esses
princípios foram estabelecidos na Recomendação UNESCO/OIT de 1966, relativa à
Situação dos Professores, um marco de referência que resultou no primeiro
instrumento normativo internacional destinado à profissão docente. Desde aquele
dia, temos realizado grandes progressos na elevação do status dos professores –
mas ainda existe muito mais trabalho a ser feito.
Nós dedicamos o Dia Mundial dos
Professores de 2016 à celebração desse marco, reafirmando o nosso compromisso
quanto aos padrões e às aspirações que ele representa – e, da mesma forma,
redobrando os nossos esforços para alcançá-los. Os professores de todo o mundo
– e as crianças de todo o mundo – não merecem menos do que isso.
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