Dinalva Heloiza
“O fato de estarmos vendo a eclosão de tantas novas crises sem que
nenhuma das anteriores tenha sido resolvida mostra uma clara falta de
capacidade e de vontade política para acabar com os conflitos, menos ainda para
preveni-los. O resultado é a proliferação alarmante de incertezas e impunidade.”
António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas.
“Líderes passam a demonizar determinados grupos, como migrantes,
negros, mulheres, população LGBT [lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e
transgêneros], como se fossem a origem do problema que estas sociedades estão vivendo.
Essa tática de demonização não é mais do que uma cortina de fumaça que tenta
esconder a incapacidade desses dirigentes diante de suas obrigações em proteger a vida
e o direito das pessoas”, diretora executiva da Anistia Internacional no
Brasil, Jurema Werneck.
Jurema Werneck
"Embora o informe trate dos temas mencionados e de muitos outros, suas
páginas não conseguem carregar a profundidade da tragédia que as crises de 2015
imprimiram em cada ser humano – sobretudo a crise dos refugiados, agora
agravada pelo inverno no hemisfério Norte. Em situações como essa, proteger e
fortalecer os sistemas de proteção civil e de direitos humanos não pode ser
considerado uma opção. É literalmente uma questão de vida ou morte.” Salil Shetty, Secretário-Geral da Anistia
Internacional.
Apresentação do Relatório por Salil Shetty - Secretário Geral da Anistia Internacional
Relatório - “O Estado dos Direitos Humanos no
Mundo” 2016/2017.
O ano de 2016 desencadeou um
teste rigoroso a capacidade do sistema internacional de responder às crises e
aos deslocamentos em massa de pessoas, e seu resultado mostrou que o sistema é
lamentavelmente inadequado.
Existem hoje mais pessoas
desalojadas e em busca de refúgio em todo o mundo do que em qualquer momento
desde a Segunda Guerra Mundial. Parte dessa crise se deve ao contínuo conflito
armado na Síria, onde mais da metade da população já escapou de suas fronteiras
ou está desalojada dentro do país. As tentativas feitas até agora para
solucionar o conflito só serviram para expor as divisões que desafiam a região
e o mundo.
Iniciativas multilaterais para responder
ao fluxo de refugiados, como o Plano Regional para Refugiados e Resiliência da
ONU foi, nos últimos meses, confrontados com o real tamanho da crise e tiveram
que intensificar sua coordenação no Egito, no Iraque, na Jordânia, no Líbano e
na Turquia.
Os governos da Europa, do Canadá
e dos Estados Unidos, onde a percepção da opinião pública sobre os refugiados
foi abalada pela imagem chocante mostrada pela mídia, do corpo do menino sírio
Alan Kurdi, afogado na praia, quando se viram forçados a reagir à comoção
pública e aos apelos para receber os refugiados e pôr fim a essa crise.
Contudo, os conflitos e as lacunas nas respostas institucionais à crise vieram
à tona, tanto entre vizinhos regionais da Síria quanto entre Estados
ocidentais.
Embora alguns países da região
tenham aceitado grande número de refugiados sírios, muitos governos do Oriente
Médio e do Norte da África, assim como de outros lugares, não se mostraram
dispostos a aumentar sua quota de refugiados para níveis significativos. A divisão
do ônus e da responsabilidade continuou demasiado desequilibrada e os recursos
disponibilizados ficaram muito aquém das demandas de uma crise em pleno
desenvolvimento.
Enquanto isso, os direitos
humanos de muitas famílias e indivíduos em trânsito foram violados, inclusive
por meio da criminalização dos requerentes de asilo, de seu repatriamento,
remoção e devolução a outros territórios, ou de várias ações tomadas pelos
Estados que correspondem a uma negação do acesso ao processo de asilo.
Enquanto o mundo buscava reagir à
onda de pessoas que deixava a Síria, a guerra que dilacera o país cristalizava
as preocupações urgentes com a aplicação das leis internacionais humanitárias e
de direitos humanos, sobre as quais a Anistia Internacional e outras organizações
vem há anos alertando.
O conflito sírio se tornou um
exemplo da proteção inadequada de populações civis em risco e, de modo mais
amplo, do fracasso sistemático das instituições em fazer valer o direito
internacional.
Mesmo que alimentemos uma
esperança de que as atuais iniciativas possam levar paz à Síria, a guerra que
se desenrola no país há vários anos também evidencia o ambiente de impunidade
que se cria quando os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU
usam seu poder de veto para impedir ações consistentes e proporcionais que
visam acabar com crimes de guerra e crimes contra a humanidade, bem como para
impedir a prestação de contas quando tais crimes estão sendo ou já foram
cometidos.
A trágica situação dos direitos
humanos na Síria expôs as debilidades dos sistemas de proteção aos civis
durante conflitos armados. Na crise síria e, de modo mais geral, nas ações do
grupo armado que se autodenomina Estado Islâmico (EI), vemos as consequências
do imprudente comércio de armas que se pratica há décadas e seu efeito mortal
sobre os civis. O conflito também mostrou que muitos países fugiram da
responsabilidade de proteger os refugiados enquanto brigavam por “proteção de
fronteiras” e “gestão de migração”, em vez de tomar uma atitude decisiva para
salvar vidas.
Ainda assim, por mais emblemática
que seja a guerra civil na Síria é apenas um dos muitos conflitos que
contribuíram para a quantidade sem precedentes de refugiados, migrantes e
desalojados internos em todo o mundo.
Conflitos armados continuaram
acontecendo em países como Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão e Iêmen.
Ultrapassando fronteiras, o EI exibiu um desrespeito brutal pela vida da
população civil, forçando milhares de pessoas a fugir. Na África, atores
estatais e não estatais cometeram sérias violações e abusos dos direitos
humanos em países como Burundi, Camarões, República Centro-Africana, nordeste
da Nigéria, Somália e Sudão do Sul, em alguns casos atacando civis e
infraestruturas civis.
Todas essas situações fizeram com
que um grande número de pessoas fugisse de suas casas para se refugiar em
outros lugares. Os conflitos em Israel e nos Territórios Palestinos Ocupados,
assim como na Ucrânia, continuaram a tirar a vida dos civis, pois todas as
partes violaram as leis internacionais humanitárias e de direitos humanos.
E enquanto o continente Americano
reconhecia os avanços positivos no conflito que há décadas assola a Colômbia –
mesmo que ali também a prestação de contas seja sacrificada em nome dos acordos
políticos – a violência continuou a subverter os direitos humanos e as
instituições em países como Brasil, México e Venezuela.
Termos chegado a um ponto tão
baixo justamente quando a ONU completa 70 anos, depois de sua criação, exortar
as nações a se unirem para “salvar as gerações futuras do flagelo da guerra” e
“reafirmar a crença nos direitos humanos fundamentais”, coloca-nos uma questão
simples, mas inevitável: será o sistema de leis e instituições internacionais, adequado
a urgente tarefa de proteger os direitos humanos?
No Informe Anual de 1977,
acolhemos com agrado a primeira reunião do Comitê de Direitos Humanos da ONU,
observando que se tratava de um dos “diversos acontecimentos nas Nações Unidas
em áreas que importam para as preocupações de direitos humanos da Anistia
Internacional”. Acrescentamos a estes acontecimentos os de áreas tais como a do
combate à tortura.
Nesses anos, a Anistia
Internacional tem ajudado a fomentar um compromisso crítico com os sistemas de
leis internacionais de direitos humanos e leis internacionais humanitárias.
Entretanto, as falhas desses sistemas nunca foram tão aparentes quanto são
hoje. Dentre as diversas ameaças aos direitos humanos levantadas no relatório
deste ano, destacamos dois temas relacionados.
O primeiro tema que emergiu
claramente no ano passado foi que o sistema internacional não foi robusto
frente às dificuldades e desafios. Quando as rachaduras começaram a surgir,
percebemos que era o próprio sistema internacional de proteção dos direitos
humanos que precisa ser protegido. Em 2015, várias ameaças aos mecanismos de
proteção dos direitos humanos ocorreram. A prestação de contas e a proteção dos
direitos humanos no âmbito regional da África e das Américas enfrentaram
ameaças internas.
Os governos da África colocaram
obstáculos à cooperação com o TPI, pois diziam estar fortalecendo os sistemas
africanos, mesmo sem garantir que os mecanismos nacionais e regionais fizessem
justiça. Os mecanismos que surgiram no Oriente Médio e no norte da África não
promoveram de maneira suficiente uma visão universal dos direitos humanos. O
incipiente sistema da Ásia permaneceu largamente ineficaz.
Enquanto isso, o sistema europeu
era ameaçado tanto pela possibilidade de perder o apoio de alguns Estados
quanto pelo enorme acúmulo de casos à espera de justiça e prestação de contas.
Proteções de natureza
multilateral, tais como a Convenção da ONU sobre Refugiados e a Convenção da
ONU contra a Tortura, e mecanismos especializados, como os que protegem as
pessoas em perigo no mar, não conseguiram evitar ou conter as crises
humanitárias, nem proteger os civis contra violações graves dos direitos
humanos, muito menos garantir a prestação de contas pelas atrocidades
cometidas.
Ataques bárbaros contra populações de Beirute a Bamako e Yola, de Túnis a Paris e outros lugares, também levantaram questões sobre o papel da lei internacional dos direitos humanos em responder às ameaças apresentadas por atores não estatais – em particular os grupos armados violentos.
Ataques bárbaros contra populações de Beirute a Bamako e Yola, de Túnis a Paris e outros lugares, também levantaram questões sobre o papel da lei internacional dos direitos humanos em responder às ameaças apresentadas por atores não estatais – em particular os grupos armados violentos.
A Anistia Internacional defende que se renove
o compromisso com a proteção do sistema internacional de direitos humanos. Para
que esse sistema seja adequado à tarefa que deve cumprir, os Estados devem
proteger o próprio sistema. Isso deve necessariamente incluir a contenção
voluntária do uso de veto pelos membros do Conselho de Segurança da ONU quando
se cometem crimes de grande atrocidade; a implementação efetiva das normas de
direitos humanos em todos os instrumentos das leis internacionais dos direitos
humanos; respeito pela lei internacional humanitária; evitar ações que
prejudiquem os sistemas de direitos humanos, como retirada de apoio ou ataques;
e adequação dos mecanismos regionais de direitos humanos às normas universais
do sistema internacional.
A segunda questão imperiosa que
emergiu no ano passado está bastante relacionada à primeira. Em sua origem,
muitas das crises do ano que passou foram geradas pelos ressentimentos e
conflitos que costumam aflorar quando os Estados suprimem brutalmente as
divergências, ou quando reprimem o anseio essencial de cada pessoa de viver com
dignidade e seus direitos respeitados.
Seja na crise do mar de Andamão,
que, em maio, teve milhares de refugiados e migrante à deriva sem água ou
alimentos, seja nos assassinatos e desaparecimentos forçados de defensores dos
direitos humanos que atuam para proteger o direito a terra e aos meios de
subsistência na América Latina e no Caribe, nesses e em muitos outros casos a
repressão brutal das divergências e a negação dos direitos básicos das pessoas
– inclusive os direitos econômicos, sociais e culturais –, bem como o fato de
os Estados não protegerem os direitos de todos, faz com que nasçam tensões no
seio das sociedades, cujas consequências, por sua vez, pressionam os sistemas
internacionais de proteção além de seus limites.
O exemplo mais concreto e recente
da ligação entre a falência do sistema e a combinação de repressão
governamental à dissidência com desproteção dos direitos humanos é a “Primavera
Árabe”, que, alguns anos atrás, mudaram o cenário do Oriente Médio e do norte
da África. Passada meia década de uma das mais dinâmicas demonstrações do poder
popular que o mundo já viu, os governos estão usando métodos cada vez mais
calculados para suprimir as divergências, não só no Oriente Médio, mas em todo
o mundo.
São especialmente perturbadoras
as evidências fartas de que a repressão se tornou agora tão brutal quanto
sofisticada. Enquanto 2011 foi marcado pela morte de mais de 300 pessoas pelas
forças de segurança durante a “revolução de 25 de janeiro” no Egito, bem como
pelos mais de 50 manifestantes mortos na “Sexta-feira Negra” no Iêmen, hoje em
dia, os estragos que a brutalidade policial comete em praça pública pouco
rendem manchetes.
Neste relatório, porém, a Anistia
Internacional documenta o uso constante e generalizado de força excessiva contra
oponentes e manifestantes, além de sua execução extrajudicial e desaparecimento
forçado, em toda a face do globo. Cinco anos atrás, a repressão e a tortura
sistemáticas na cidade síria de Tell Kalakh já prenunciava a reação violenta
dos Estados da região contra as divergências e os protestos populares.
Nos anos seguintes, a tortura
continuou sendo praticada naquela e em outras partes do mundo, geralmente
encoberta por dissimulação linguística como “técnica de interrogatório
intensificada” – aqueles horrores revelados pouco antes da “Primavera Árabe” e
justificados em nome da chamada “guerra ao terror”.
Muitas vezes, a repressão foi
prática sistemática, com frequência embutida em pacotes que pregavam a
necessidade de defender a segurança nacional, manter a lei e a ordem e proteger
os valores nacionais. Em vários países, as autoridades reprimiram a liberdade
de expressão na internet e tentaram aniquilar seus adversários com métodos que
incluíram prisões e detenções arbitrárias, tortura, outros maus-tratos e pena
de morte.
Ao mesmo tempo, uma ação judicial
interposta pela Anistia Internacional revelou que o nível de vigilância
empregado por alguns Estados tornou real a ficção do Big Brother, tendo como
alvo principal a vida e o trabalho de defensores dos direitos humanos. Os novos
métodos de repressão que os Estados estão desenvolvendo continuamente para
sobrepujar as novas tecnologias e conectividades são uma das maiores ameaças à
liberdade de expressão.
Por causa de campanhas de
organizações como a Anistia Internacional, a ONU estabeleceu um novo
procedimento especial: o relator especial sobre o direito à privacidade na era
digital. O trabalho do relator especial será de grande importância nos próximos
meses para auxiliar na criação de normas nessa área que respeitem os direitos
humanos.
Desde aqueles dias em que a voz
do povo conseguiu se erguer cinco anos atrás, as ações implacáveis dos Estados
para eliminar as divergências, os protestos e a livre expressão de opiniões se
intensificaram. A Anistia Internacional apela aos Estados para que respeitem os
direitos humanos de indivíduos e grupos a fim de que possam se organizar, se
reunir e se manifestar, que possam ter e compartilhar, por quaisquer meios,
opiniões com as quais os governos discordem, e que todos recebam a mesma
proteção perante a lei.
Além de serem cruciais para a
liberdade individual, os direitos que protegem o espaço e o trabalho dos
defensores dos direitos humanos protegem também o próprio sistema de direitos
humanos. Os sinais de esperança que vimos em 2015 foram resultado de constantes
campanhas, de organização, de dissidência e de ativismo da sociedade civil, dos
movimentos sociais e dos defensores dos direitos humanos.
Vamos mencionar apenas três
exemplos do ano passado: a presença de elementos de direitos humanos e
prestação de contas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU; as
ações empreendidas em maio para impedir as remoções forçadas referentes ao
projeto da rodovia de acesso ao porto regional de Mombaça, no Quênia; e a libertação
de Filep Karma, prisioneiro de consciência em Papua, como resultado das 65.000
mensagens escritas em seu favor por apoiadores de todo o mundo.
Essas conquistas não foram
alcançadas pela benevolência dos Estados. Nem esses sinais de esperança serão futuramente
sustentados apenas por atores estatais. Mas os governos devem permitir espaço e
liberdade para que os ativistas e defensores dos direitos humanos realizem seu
trabalho fundamental.
Por isso, a Anistia Internacional
demanda que todos os Estados garantam que a Resolução adotada em novembro pela Assembleia
Geral da ONU para proteger os direitos dos defensores de direitos humanos seja
aplicada com transparência e prestação de contas, denunciando aqueles Estados
que desrespeitarem tais direitos.
Depois que o último ponto final
foi inserido nessa Resolução, nenhum defensor dos direitos humanos ou membro de
sua família deveria ter a vida tirada pelo Estado, nem ficar sem a proteção do
Estado, nem mais ser perseguido ou posto em risco. Como a maior organização de
defensores dos direitos humanos do mundo, apresentamos este relatório sobre a
situação dos direitos humanos no ano que passou.
*Salil Shetty, Secretário-Geral da
Anistia Internacional.
*Anistia: discurso xenófobo desencadeia retrocesso global nos direitos
humanos
Líderes mundiais que utilizam a
retórica do “nós contra eles” estão criando um mundo mais dividido e mais
perigoso, este é mais um alerta do relatório da Anistia Internacional.
Para a organização, a retórica
xenófoba que tem sido a tônica em discursos políticos na Europa e nos Estados
Unidos vem desencadeando um retrocesso mundial nos direitos humanos e
enfraquecendo a resposta da comunidade internacional às violações em massa como
as que atingem refugiados e imigrantes.
“2016 foi o ano no qual o uso
descarado de narrativa do tipo 'nós contra eles', de culpa, de ódio e de medo,
ganharam proeminência global, num nível que não se via desde a década de 1930.
São muitos os políticos que têm respondido a receios reais quanto à segurança e
à economia utilizando-se da manipulação política identitárias de forma
separatista e perversa, na tentativa de ganhar votos”, disse o secretário-geral da Anistia, Salil Shetty.
Ele deu como exemplo de líderes
com um discurso agressivo os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da
Hungria, Viktor Orban, com suas políticas anti-imigratórias.
Shetty também citou o líder turco
Recep Tayyip Erdogan que, após sofrer tentativa de golpe, determinou a
suspensão de veículos de imprensa e de organizações não governamentais, além da
detenção de milhares de opositores.
Outro político apontado pela
Anistia é o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, criticado por aplicar
uma política brutal de combate às drogas, que inclui execuções extrajudiciais
de pessoas suspeitas de usar ou vender drogas.
Brasil
Em relação ao Brasil, o organismo
avalia que a atual situação não pode significar retrocesso de direitos humanos
no país. Para a organização internacional, a crise política, econômica e
institucional vivida no país no ano passado paralisou os debates sobre
políticas públicas a promoção de direitos humanos, contribuindo para o avanço
de agendas conservadoras e o aumento das violações no campo e na cidade que
afetam principalmente jovens negros e lideranças rurais.
Segundo Jurema Werneck, o Estado
brasileiro não pode se omitir de sua responsabilidade de propor e programar
políticas públicas que promovam e garantam os direitos humanos.
“O que vimos em 2016 foi o
desmantelamento de programas que garantiam a proteção a direitos previamente
conquistados e a omissão do Estado em relação a temas críticos, como a
segurança pública. Nenhuma crise – política, econômica ou institucional – pode
ser usada como justificativa para a perda de direitos”, disse Jurema.
A diretora executiva deu como
exemplo o programa de proteção aos defensores de direitos humanos, que, segundo
ela, foi enfraquecido ao longo dos anos e suspenso no ano passado.
Mulheres fazem manifestação no Recife em defesa da vida Arquivo/Sumaia
Villela
Para a Anistia Internacional, o
Estado brasileiro tem falhado em seu papel de garantir o direito à vida por não
ter apresentado um plano consistente a redução e prevenção de homicídios e pelo
fato de agentes de segurança, principalmente policiais em serviço, serem
responsáveis por milhares de mortes todos os anos, sobretudo de moradores das
favelas e periferias.
A entidade de direitos humanos
avalia que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos
públicos pelos próximos 20 anos, aprovada no Congresso, pode ter efeitos
negativos nos investimentos em educação e saúde. A PEC foi promulgada em 15 de
dezembro e já entrou em vigor. O governo argumenta que o teto não afetará os
repasses para as áreas.
Segundo a Anistia, propostas que
prejudicam os direitos das mulheres, povos indígenas, gays e lésbicas estão em
discussão no Congresso. A organização dá o exemplo do Estatuto da Família. Em
setembro, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou mudanças no
estatuto para definir família como a união entre um homem e uma mulher.
Jogos Olímpicos
O relatório destaca que as
autoridades e os organizadores dos Jogos Olímpicos Rio 2016 não tomaram as
medidas necessárias para evitar violações de direitos humanos pelas forças de
segurança antes e durante o evento esportivo. Segundo a Anistia, durante as
Olimpíadas, foram intensificadas as operações policiais em favelas. “Os
moradores relataram horas de tiroteio intensos e abusos contra os direitos
humanos, como buscas domiciliares ilegais, ameaças e agressões físicas”, diz o
texto.
A organização também destaca que
na passagem da Tocha Olímpica pelo estado do Rio de Janeiro e durante a
realização dos Jogos, protestos pacíficos contra as Olimpíadas foram reprimidos
com uso excessivo e desnecessário da força policial.
Manifestações
Segundo a Anistia, o ano de 2016
foi marcado por manifestações majoritariamente pacíficas sobre o processo de impeachment de
Dilma Rousseff, reforma educacional, violência contra as mulheres, impactos dos
Jogos Olímpicos e redução de gastos públicos com saúde e educação.
“A sociedade brasileira se provou
maior do que as crises. Em 2016, nós vimos o crescimento da mobilização social.
Vimos adolescentes e jovens estudantes lutando em defesa da educação e da
escola pública. Vimos o movimento LGBT, das mulheres e negro denunciando e se
mobilizando contra graves violações”, disse a diretora executiva da Anistia
Internacional no Brasil.
*Anistia Internacional -
Relatório “O Estado dos Direitos Humanos no Mundo” 2016/2017.
*Ana Cristina Campos –
Agência Brasil
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