Com Informações da ONU Mulheres Brasil e STJ
Por mais de um século, os
movimentos das mulheres têm liderado uma reivindicação política e de direitos
humanos, por igualdade de gênero, fim da violência, justiça social com relação
à saúde e à educação, e participação política e econômica, a igualdade de
gênero é fator fundamental e deve ser alcançada em todo o mundo, e em especial
no Brasil.
Essa não é uma luta fácil, e a participação de todos, é uma questão moral de toda a sociedade. O progresso ainda está distante da promessa de alcance da igualdade de gênero, direitos humanos das mulheres e o empoderamento, mas é necessário que à cada dia essa luta seja apoiada e estimulada.
E sem dúvida alguma, uma das
grandes conquistas nessa luta, é o apoio da Organização das Nações Unidas,
através da Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o
Empoderamento das Mulheres a ONU Mulheres e o Protocolo HeForShe.
Criado pela ONU Mulheres, o
#HeForShe – ou #ElesPorElas – é um esforço global para envolver homens na
remoção das barreiras sociais e culturais que impedem as mulheres de atingirem
seus potenciais e construírem uma nova sociedade global.
Em cenário nacional, foi
realizado na terça-feira (20) a segunda edição do seminário Trajetórias
e Desafios das Mulheres no Judiciário, um evento marcado pela iniciativa do presidente do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, ao firmar a adesão da
corte superior ao Protocolo HeforShe,
da ONU Mulheres, e ao mesmo tempo relançar o Programa Equilibra
STJ, com novas regras para promover o equilíbrio de oportunidades entre
homens e mulheres na corte.
O evento teve a participação por videoconferência da representante da ONU Mulheres no Brasil, Anastasia Divinskaya, que chamou a atenção para a baixa participação feminina nas mais altas instâncias judiciais, em nível nacional e internacional.
Segundo Anastasia Divinskaya, o menor acesso à cúpula do Judiciário
contrasta com a significativa presença de magistradas no cenário mundial,
quando ela lembrou que, nos países membros da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), cerca de 54% dos cargos de juiz, já são hoje ocupados
por mulheres.
"A maior representação das mulheres no sistema judicial é importante
para manter a confiança do público. Há provas suficientes de que juízas podem
criar ambientes mais favoráveis para outras mulheres nos tribunais e fazer a
diferença nos resultados", defendeu a representante da ONU Mulheres.
"A busca pela igualdade de
gênero não se limita à esfera do sistema de Justiça. Ao contrário, tem efeitos
multiplicadores e benefícios no desenvolvimento sustentável, pela presença na
política, na economia e em diversas áreas de tomada de decisão. É preciso
assegurar a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de
oportunidades para liderança em todos os níveis, nas esferas pública e
privada", disse Humberto Martins.
Programa Equilibra
Na abertura do seminário, o presidente do STJ lançou também a nova regulamentação – por meio da Instrução Normativa 16/2020 – do Programa de Participação Institucional Feminina no STJ, o Programa Equilibra STJ.
Instituído em março de 2019, o
programa já organizou uma série de ações no tribunal, como rodas de conversa e
debates sobre temas variados, a exemplo de saúde feminina e assédio moral e
sexual. Além disso, foi criada uma Ouvidoria das Mulheres –
integrada à Ouvidoria do STJ –, com o propósito de ser um canal de escuta ativa
para as servidoras.
Ao relançar o Equilibra,
o ministro ressaltou que o tribunal está em posição de vanguarda em matéria de
igualdade de gênero, lembrando que o número de servidoras praticamente se equipara
ao de servidores. Ainda segundo Martins, há equilíbrio na ocupação dos cargos
de chefia, com 47% deles ocupados por mulheres.
Interrupções
A segunda parte do seminário
trouxe um diálogo virtual sobre as trajetórias profissionais de três mulheres:
Maria do Carmo Cardoso, desembargadora do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF1); Sandra Silvestre, juíza auxiliar da Presidência do STJ e
coordenadora do Programa Equilibra; e Bárbara Brito, secretária de
Jurisprudência do tribunal.
As três palestrantes falaram a
respeito dos desafios enfrentados ao longo da carreira jurídica, em debate
mediado pela jornalista Basília Rodrigues, da CNN Brasil.
Desde 2001 no TRF1, a
desembargadora federal Maria do Carmo Cardoso criticou a prática – comum em
diferentes cortes do país – de colegas do sexo masculino que interrompem as
magistradas durante a apresentação de seus votos nas sessões de julgamento.
"A discriminação está nas
sutilezas. Logo que entrei aqui [no TRF1], tive uma interrupção em um voto.
Gentilmente, pedi ao colega que me permitisse concluir o raciocínio. Expliquei
que daria toda a palavra a ele assim que eu terminasse, porque poderíamos
debater melhor ao final. Disse ainda que, naquele momento, a interrupção não se
prestava a nada. Ele ficou quieto e, depois, veio pedir desculpas",
relatou a desembargadora.
Luta permanente
Para a coordenadora do Equilibra
STJ, Sandra Silvestre, a caminhada das mulheres na magistratura é
longa. Ao falar de sua experiência como juíza do Tribunal de Justiça de Rondônia
(TJRO), ela destacou as dificuldades para conciliar as responsabilidades
profissionais com a maternidade e a vida em família.
A magistrada contou também que,
no TJRO, o espaço ocupado pelas mulheres não corresponde àquele conquistado nos
níveis básicos da carreira, onde o acesso se dá por concurso público.
"Para ser uma boa profissional, é preciso dar o sangue. Mas precisamos
pensar: que preço é esse que a mulher tem de pagar para ter uma
carreira?", indagou.
Protagonismo feminino
A secretária de Jurisprudência do
STJ, Bárbara Brito, afirmou que, como servidora, sempre percebeu que o tribunal
valoriza o protagonismo feminino e não faz diferenciação entre os gêneros.
Apesar de compartilhar que já foi
intimidada e constrangida no cargo de gestora por um subordinado, Bárbara Brito
explicou que o episódio foi pontual e que conseguiu reagir de maneira a se
impor, mantendo o nível de respeito com todas as pessoas da equipe, homens e
mulheres. "O respeito é muito presente no STJ. Nunca tive nenhum episódio
de minha competência ter sido questionada pelos meus superiores",
declarou.
Assédio
Durante o seminário – que teve a
participação dos internautas em tempo real –, uma servidora da Justiça Federal
sugeriu a elaboração de cartilhas e a realização de cursos sobre assédio moral
e sexual contra as mulheres no Poder Judiciário.
Em resposta à manifestação, o
presidente do STJ e do Conselho da Justiça Federal (CJF), ministro Humberto
Martins, informou que as denúncias de assédio praticado por servidores da
Justiça Federal já são apuradas com rigor pelo CJF.
"Não admitimos qualquer desvio ético, principalmente o desvio que venha a ferir a dignidade das pessoas e denegrir a imagem do Poder Judiciário. Nós iremos repreender todas as atitudes no sentido de restabelecer a dignidade das pessoas ofendidas", garantiu Martins.
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