Navi Pillay, Alta Comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas
“Um ano em que uma única palavra, que brotou da busca frustrada de um único jovem pobre de uma remota província da Tunísia, fez brotar um sentimento que rapidamente ressonou com grande intensidade.
Poucos dias depois, ouvia-se com força na capital, Túnis, e em quatros semanas sacudiu os alicerces de um regime autoritário e aparentemente invencível. Esse precedente, que revisou radicalmente a arte do possível, rapidamente se propagou pelas ruas e praças do Cairo e seguiu por outras cidades e povoados em toda a região, e com o tempo, chegaria a adotar diferentes formas pelo mundo.
Essa palavra, essa busca, foi ”dignidade”.
Em Túnis e Cairo, Benghazi e Dara’a, e mais tarde, embora tenha sido em diferente contexto, em Madri, Nova York, Londres, Santiago e outras capitais, milhões de pessoas de todos os setores sociais se mobilizaram para reivindicar suas próprias demandas por dignidade humana. Eles disseminaram a promessa da Declaração Universal dos Direitos Humanos e exigiram a “liberdade do medo e a liberdade da necessidade”, que resumem todos os direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais contidos na Declaração. Eles lembraram aos governos e instituições internacionais que a saúde, educação, moradia, e o acesso à justiça não são bens que se vendem a uns poucos, mas sim direitos garantidos a todos, em todas as partes do mundo, sem discriminação.
Em 2011, o conceito de poder mudou. No percorrer desse ano extraordinário, o poder foi exercido não somente pelas poderosas instituições enclaustradas em palácios de mármore, mas cada vez mais por homens e mulheres comuns, inclusive, crianças que com valentia exigiram seus direitos. No Oriente Médio e na África setentrional, milhares pagaram com suas vidas e milhares foram feridos, perseguidos, torturados, presos e ameaçados, no entanto, essa recém-descoberta determinação de exigir seus direitos deve ser entendida no sentido de que eles não estão mais dispostos a aceitar a injustiça.
Apesar de lamentar a perda de muitas vidas, inclusive nos últimos dias, durante os cruéis ataques contra cidades e povoados na Síria, ou pelo uso excessivo da força novamente em Cairo além dos eventos para desestabilizar as eleições na República Democrática do Congo, também temos motivos para comemorar.
A mensagem desse inesperado “despertar mundial” não foi transmitido por satélites dos grandes grupos midiáticos, nem em conferências ou outros meios tradicionais, apesar do papel que eles desempenharam, mas sim pela dinâmica onda dos meios de comunicação das redes sociais. Os resultados foram surpreendentes.
Ao finalizar esse primeiro ano do “despertar do mundo”, assistimos a celebração do êxito das eleições pacíficas em Túnis e, no começo dessa semana, no Egito, onde os resultados das primeiras eleições verdadeiramente democráticas em decênios superaram as expectativas de todos, apesar do terrível agravamento da violência na Praça Tahrir.
Hoje como ontem, os fatores editoriais e financeiros, assim como a possibilidade de acesso, determinam se os protestos e a repressão contra eles são televisionados ou divulgados na imprensa internacional. No entanto, onde quer que ocorram, podemos estar seguros que a informação será divulgada no Twitter, postado no Facebook, transmitido no Youtube e difundido da internet. Os governos já não têm a possibilidade de monopolizar a difusão da informação nem censurar o que é dito nela.
Em vez disso estamos vendo pessoas reais, lutando de verdade, transmitindo em tempo real, e de muitas maneiras o que vemos é encorajador.
Resumindo, em 2011, os direitos humanos tornaram-se virais.
No Dia dos Direitos Humanos de 2011 peço que todos, em todas as partes do mundo, adiram à campanha lançada pelo meu escritório na internet e mídias sociais para ajudar mais pessoas a conhecer, exigir e defender seus direitos humanos. É uma campanha que deve continuar enquanto os abusos de direitos humanos persistirem.”
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